Lembro um outro post meu que trata do assunto do culto e do louvor, que pode ser lido aqui, onde coloco algumas considerações sobre grupos de louvor e instrumentos musicais.
Este
post é uma tentativa de atender ao pedido de um querido amigo no post
anterior: qual a diferença entre danças e instrumentos de música? Entre
danças e corais? Se pode um, por que não pode o outro? Por que proibir
danças e permitir instrumentos e corais?
Vou dar meu
entendimento sobre esse assunto. Para mim, as danças litúrgicas são
vistas como elemento de culto, enquanto que corais, instrumentos de
música, são meras circunstâncias deste culto. Deixem-me elaborar um
pouco mais neste assunto difícil.
1) Os elementos de culto --
são aquelas atividades determinadas pelas Escrituras nas quais o povo
de Deus se engaja durante o culto, com o propósito de adorar a Deus,
render-lhe graças e louvor, edificar-se internamente e anunciar o
Evangelho ao mundo.
Nem todas as atividades das quais
os seres humanos são capazes são próprias, adequadas ou eficazes para
estes fins elevados, embora não sejam intrinsecamente erradas para
outros propósitos. Por este motivo, o próprio Deus nos revelou em Sua
Palavra quais atividades são apropriadas para o culto que Ele nos
determinou. Historicamente, as igrejas cristãs têm considerado como
elementos de culto (embora nem sempre tenha havido unanimidade), a
leitura das Escrituras com o temor divino, a sã pregação da palavra e a
consciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé e
reverência; o cantar salmos, hinos e cânticos espirituais com graças no
coração, a administração e digna recepção dos sacramentos instituídos
por Cristo, votos, jejuns solenes, ações de graças em ocasiões
especiais, e ofertas.
Devemos cuidar para que o culto
oferecido a Deus por nossas igrejas contenham somente aqueles elementos
prescritos na Bíblia, quer de maneira clara, direta, ou mediante
inferência legítima. Todavia, considerando que não temos uma liturgia
fixa prescrita na Bíblia, e que nosso conhecimento do culto cristão
apostólico é fragmentado, a uniformidade nos cultos das igrejas cristãs é
alvo impossível de atingir. Por outro lado, as igrejas cristãs devem
estar empenhadas em sempre reformar seus cultos, em busca da
simplicidade bíblica, em vez de se empenhar para adicionar elementos e
formas de culto estranhos à Palavra de Deus em nome da modernidade,
contextualização e agradar os homens.
2) As circunstâncias de culto
-- se fizermos esta distinção entre elementos de culto e as
circunstâncias que atendem estes elementos talvez possamos eliminar boa
parte das dificuldades que cercam algumas das questões relacionadas com o
culto público.
Enquanto que a Igreja deve se
restringir zelosamente aos elementos prescritos na Palavra de Deus,
existem determinadas circunstâncias referentes ao bom andamento do culto
público que foram deixados a critério da Igreja decidir, usando bom
senso, sabedoria e os princípios gerais da Palavra.
Tais
circunstâncias estão relacionadas com o ambiente de culto, e envolvem
decisões quanto à amplificação do som, uso de mídia, arrumação do salão,
mobiliário adequado e sua disposição no local, a iluminação e decoração
do ambiente, entre outros. Outras, relacionadas com o culto
propriamente dito, tais como o horário do culto, a sua ordem
(seqüência), o acompanhamento do louvor com instrumentos musicais, o
cântico através de coros e grupos de louvor.
O que
diferencia estas circunstâncias dos elementos do culto é que os
elementos são parte essencial do culto a Deus e foram por Ele prescritos
em Sua Palavra, sendo meios pelos quais recebemos a Sua graça e lhe
prestamos adoração e louvor. As circunstâncias, por sua vez, dizem
respeito aos passos envolvidos na implementação e aplicação dos
elementos – são dependentes destes. Destarte, as circunstâncias não se
referem as parte do culto e nem são meios de graça, podendo ou não estar
presentes. A presença das circunstâncias não torna um culto mais ou
menos espiritual ou aceitável a Deus.
Por causa de sua
natureza circunstancial e secundária, estas providências que atendem o
culto não devem tornar-se um fim em si mesmas, assumir caráter
religioso, tomar o lugar dos elementos ou impedir que os mesmos sejam
utilizados de forma própria, eficaz e correta pelo povo de Deus. Seu
objetivo é exatamente permitir que o culto a Deus aconteça de maneira
adequada, apropriada, facilitando a sua realização e maximizando o
potencial dos elementos.
No meu entendimento, danças
litúrgicas são vistas como elemento de culto pelas igrejas que as
adotam. A começar do nome, “dança litúrgica”, isto é, uma dança que faz
parte da liturgia do culto. Criou-se um novo dom espiritual para este
“ministério”, que é o dom da dança e até mesmo a associaram com a
profecia, surgindo a dança profética. As danças litúrgicas se tornam uma
parte do culto, como a pregação, a Ceia, etc.
Já
instrumentos de músicas, como piano, guitarra, bateria, são meras
circunstâncias, que podem ou não estar presentes, e que não agregam a si
qualquer conteúdo espiritual ou teológico, ao contrário das danças, que
são vistas como manifestações espirituais.
Os
conjuntos corais também não são elementos de culto, são uma
circunstância daquele elemento que é o louvor. Trata-se de transmitir
pela música, de maneira inteligível e numa linguagem que todos entendem,
a mensagem da Palavra de Deus. As danças litúrgicas, ao contrário, não
esclarecem a mensagem, antes a confundem, pois gestos, movimentos, por
mais graciosos e harmônicos que sejam, não têm como transmitir de forma
inteligente e compreensível a Palavra de Deus, e assim ferem aquele
princípio que Paulo recomenda em 1Coríntios 14, que as manifestações no
culto devem ser entendidas por todos. É por isto que ele não permite o
falar em línguas no culto, a não ser que sejam interpretadas, para que
os demais possam receber edificação.
Ao mesmo tempo,
preciso dizer que corais e grupos de louvor só deveriam ser permitidos
se tiverem este caráter de circunstância: que auxiliem o louvor,
tornando-o melhor, mais inteligível, e sem se tornarem o centro das
atenções. Quando corais e grupos de louvor viram apresentação, não
deveriam ser admitidos no culto.
Termino
reafirmando, mais uma, que este assunto não está na essência da fé
evangélica, embora por isto não deva ser menosprezado. Continuo
desejando comunhão com todo vero irmão em Cristo, ainda que ele seja
parte do grupo de dança litúrgica de sua igreja.
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