Resenhas


MACHEN, J. Greshan, D.D. Cristianismo e Liberalismo. São Paulo:. Editora Os Puritanos, 2001, 181p.

Um dos defensores mais articulados da teologia cristã ortodoxa apresenta seus conceitos e suas razões contra as tendências do liberalismo e do racionalismo cristão. J. Gresham Machen que escreveu o livro Cristianismo e Liberalismo,  apresenta uma crítica fortíssima ao liberalismo cristão. O livro, portanto, traça um paralelo entre o pensamento de Machen com o pensamento do liberalismo, como se pode perceber segundo o prefácio: “Cristianismo e Liberalismo”, sugere com ousadia que o protestantismo liberal não era um mero tipo de cristianismo diferente, mas totalmente uma outra religião, o Rev. Dr. Augustus Nicodemos[1] enfatiza o liberalismo da seguinte maneira:  “O liberalismo é, de muitas maneiras, um fruto do Iluminismo, movimento surgido no início do século 18 que tinha em seu âmago uma revolta contra o poder da religião institucionalizada e contra a religião em geral”[2].

A visão do livro já fica bem definida logo no capítulo um, onde o autor diz que o propósito deste livro não é decidir a questão religiosa dos dias de hoje, mas meramente apresentá-la da forma mais precisa e clara possível, a fim de que o leitor possa ser auxiliado a decidir por mesmo. No entanto, Machen enfatiza sua rejeição ao liberalismo ou o que se chama modernismo relatando a questão da seguinte forma: Esta religião não redentora moderna é chamada de “modernismo” ou “liberalismo”. A Critica do autor é devido a importância que deve ser observada no sentido de que o liberalismo dava ênfase ao racionalismo do século XVIII. O racionalismo privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento. Este fator é observado pelo autor onde esclarece que a ascensão deste liberalismo naturalista moderno não aconteceu por acaso, mas foi ocasionada por importantes mudanças que aconteceram recentemente nas condições de vida. Tais mudanças que são atribuídas às condições materiais da vida, ou seja, a ciência passou a ter espaço que deveria ser preenchido pela verdade das escrituras. Machen afirma que o mundo industrial  não tem sido produzido por forças cegas da natureza, mas pela atividade consciente do espírito humano; tem sido produzido pelas realizações da ciência. Para o liberalismo, o homem se desenvolve quando expande sua riqueza no sentido daquilo que toma por seus valores e seus ideais.
O problema apresentado pelo autor e a questão da relação entre Cristianismo e cultura moderna. Neste sentido apresenta-se uma argumentação como: O Cristianismo pode ser mantido em uma era cientifica? Tal problemática é uma incógnita para o liberalismo como Machen ressalta, afirmando que o liberalismo moderno tenta resolver admitindo que as objeções possam surgir contra as particularidades da religião cristã.  Assim, a teologia liberal procurou sempre estabelecer teorias acerca do conhecimento de Deus, partindo de fontes tais como, as ciências e as filosofias.
Todas estas questões corroboram em afirmar que o liberalismo não pode ter respaldo na igreja e o autor é demasiadamente enfático quanto à questão, afirmando que ao manter o liberalismo na igreja moderna é representar um retorno a uma forma não cristã e sub cristã de vida religiosa, e mais, se a pregação da igreja fosse controlada pelo liberalismo, o autor diz que o Cristianismo já havia sido extinto. De fato o liberalismo traz um empobrecimento quanto à doutrina cristã. Neste sentido, o autor aborda que o liberalismo moderno na igreja, qualquer que seja o julgamento que fizemos sobre o mesmo, não é mais meramente um assunto acadêmico, tendo em vista, que, segundo Machen, o liberalismo é um ataque aos fundamentos da fé cristã e por isso, deve ser combatido nas igrejas.
A crítica do autor está em afirmar que o liberalismo moderno é diariamente oposto ao Cristianismo. Assim, o autor ressalta que o Cristianismo e baseado no relato de algo que aconteceu no primeiro século de nossa era em que o evangelho cristão consiste de um relato do modo como Deus salva o homem.
O conhecimento dos fatos encontra-se relacionado com o conhecimento de Deus. Neste caso, o autor afirma que o liberalismo moderno perdeu de vista os grandes pressupostos da mensagem cristã, ou seja, a visão do liberalismo sobre a doutrina de Deus e a do homem, segundo o autor é oposta a visão cristã.
Na concepção liberalista Deus difere ainda mais fundamentalmente da visão cristã que no círculo difere das idéias conectadas à terminologia da paternidade. Machen enfatiza que o liberalismo perdeu de vista o próprio centro e cerne do ensino cristão. Esta visão do autor é um tanto contraditório, devido a sua própria oposição ao liberalismo. Perder de vista o próprio centro e cerne do ensino cristão são afirmar que em dado momento a visão estava correta e no outro se perdeu, uma vez que na concepção do autor, o liberalismo nunca esteve.
O livro ainda apresenta uma diferença relevante que de acordo com a Bíblia, o homem é um pecador sob a justa condenação de Deus e de acordo com o liberalismo, o pecador realmente não existe. A perda da consciência do pecado está na própria raiz do movimento liberal moderno. Essa falta de consciência pode ser fruto da própria da relativização da verdade, uma vez que o relativismo pós-moderno é presente no liberalismo, o que de fato, compromete a interpretação  bíblica do liberal, devido a sua própria visão em relação as Escrituras. O fato é que Para o liberalismo não existe a descontinuidade entre a verdade humana e a verdade do cristianismo, a disjunção entre a razão e a revelação. Hodge, diz que “A influência da filosofia de Kant sobre a teologia, pelo menos por certo tempo, foi muito grande e, em alguns aspectos, salutar”[3], de fato Kant, assim como a filosofia trouxeram grandes contribuições a teologia, no entanto, a critica do autor é coerente no sentido do liberalismo em não vê as Escrituras de dentro para fora, mas de fora para dentro, colocando-a presa ao contexto social e cultura de cada época, ou seja, partindo-se do homem para a sua interpretação ou deixando a filosofia interpretar a Palavra. Este fator traz perda e, tal perda é refletida nas palavras do autor que argumenta esta questão dizendo que o liberalismo afirma que pecado não existe, ferindo neste caso, todo o ponto de partida da pregação cristã e negar o pecado se torna um equivoco, uma vez que, a mensagem cristã vem a nós através da Bíblia para nortear a nossa mente pecaminosa. Sendo assim, é imprescindível o reconhecimento das Escrituras como fonte de sabedoria, pois, é nela, como afirma o autor, traz o relato da revelação de Deus ao homem que não é encontrado em nenhum outro lugar. A perda desta consciência faz com que a procura da fonte seja algo vasculhado entre tantos outros lugares que não seja as Escrituras, o que, acarreta em vivenciar apenas o campo da conjectura e não a verdade revelada na própria Pessoa de Jesus Cristo e nos Evangelhos.
A despeito da  Pessoa de Jesus Cristo, o autor informa que o liberalismo e o cristianismo são agudamente opostos. A atitude cristã para com Jesus aparece em todo o Novo Testamento, sendo assim, Jesus é o objeto da fé, onde se dá toda obra redentora. Machen vai tratar das diferenças soteriológica entre o Cristianismo e liberalismo, que para o cristianismo a base se encontra em uma relação na obra redentora de Cristo. A confiança de que Jesus é o Salvador para o cristianismo é atestada no fato de que Ele tomou sobre si as nossas culpas suportando em nosso lugar a cruz. Ao tratar da cruz que é um símbolo de salvação para o cristianismo, o autor questiona que o liberalismo moderno ainda tem objeções em especificar a doutrina da cruz. A argumentação do libaralismo é como uma pessoa pode sofre e até morrer pelas demais para que o pecado seja perdoado? Na visão do autor, o liberalismo não aceita esta questão de salvação e perdão de pecados.
Outra questão que diferencia do cristianismo para o liberalismo é o conceito que ambos têm de irmandade. Para o liberalismo todos os seres humanos são irmãos, não importa o credo à fé que cada uma exerce, ou seja, todos têm o mesmo Criador e mesma natureza. De fato, todo universo e tudo que nele existe tem o mesmo Criador, dentro desta ótica, todos são irmãos, pois, vem de um único ser. Entretanto, na visão de Machen, o conceito de irmandade é mais intenso por tratar de uma irmandade de pessoas redimidas, nascidas de novo.
O conceito de igreja se difere entre o conservadorismo e o liberalismo. Para o cristianismo a Igreja é a resposta cristã mais elevada às necessidades sociais das pessoas, outro assunto que se difere um do outro é a questão doutrinária que para o liberalismo se torna insignificante tendo em vista, a relativização da verdade. Os liberais buscam apresentar um conceito deísta[4] o que para o conservadorismo não pode haver unidade de pensamento tendo em vista que, não se pode excluir o evento fé em detrimento da razão, neste sentido, o autor aponta o assunto da seguinte forma: “Mas é a própria essência do “conservadorismo” na Igreja considerar doutrinárias não como insignificantes, mas como questões de suprema importância”. Para esclarecer esta questão  o autor cita o exemplo da Cruz, onde ele enfatiza que “um homem não pode ser evangélico ou conservador e considerar a Cruz de Cristo como algo insignificante.
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O livro apresenta um conteúdo bastante critico ao conceito liberalista. Portanto, para a visão do conservadorismo o livro é excelente, pois, aborda assuntos pertinentes a sua linha de pensamento, entretanto, será totalmente questionável quando alguém de linha liberal lê-lo, tendo em vista, que o livro vem com clareza questionar toda construção teológica dos liberais.
O livro é recomendado a pastores, professores de teologia, seminaristas e membros com maturidade cristã que gostam de aprofundar-se no assunto.
Creio que o livro não seja recomendado para membros simples da comunidade por haver um linguajar, na qual, não estão familiarizados.



[1] Teólogo brasileiro respeitado e reconhecido por sua sólida contribuição acadêmica, Augustus Nicodemus é professor visitante de Novo Testamento no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), da Universidade Mackenzie. Doutorou-se em Hermenêutica e Estudos Bíblicos (Ph.D., NT) no Westminster Theological Seminary (1993). É Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro (S). E, também, autor de vários livros, entre eles: Calvino, o teólogo do Espírito Santo (1996), O que você precisa saber sobre batalha espiritual (1997), Calvino e a responsabilidade social da Igreja (1997), A Bíblia e a sua família (2001), O culto espiritual (2001) e A Bíblia e seus intérpretes (2004), além de diversos artigos acadêmicos. Na entrevista que segue, ele nos fala um pouco sobre assuntos que têm provocado polêmica entre os teólogos evangélicos: o liberalismo e o fundamentalismo teológico.

[3] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Pág. 1170
[4] Os deístas defendem a idéia de que toda a verdade, para ser aceita, deveria passar pelo crivo da razão. A verdade religiosa não deveria ser exceção. Esse pensamento exclui o evento fé em conseqüência da razão.


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PARKER, J.I. O Conforto do Conservadorismo. In Religião de Poder.Vários autores. São Paulo: Cultura Cristã. 288 pg (p. 231-243)

O artigo “O Conforto do Conservadorismo” de J.I. Packer[1] tem como propósito de demonstrar o genuíno enriquecimento e a necessidade vital da ortodoxia cristã. Packer trabalha esse artigo apresentando os dois pontos do conservadorismo, onde ele visa explorar o tradicionalismo de uma forma legalista que mata e que não oferece nenhuma esperança, bem como, o conservadorismo saudável e benéfico à saúde da igreja.
O título do artigo aguça uma curiosidade no sentido da palavra conforto, o que chama atenção para a intenção do autor em escreve sobre o assunto. Neste sentido, o leitor inicialmente é esclarecido quando se apresenta alguns significados da palavra conforto. É mostrado o que se pode chamar de “com conforto” que pode ser tanto substantivo quanto verbo. Quanto à palavra ser um verbo, o autor enfatiza sua origem do latim confortare que significa “tornar mais forte” e, enquanto em nossa cultura encontramos o sentido de relaxar, ficar em uma posição confortável. Partindo do principio que uma palavra possa haver dois ou mais significados, Packer trabalha a questão do conservadorismo como uma palavra relativamente moderna, com foco sociopolítico e apresenta dois tipos de conservadorismo que o mesmo classifica de: Conservadorismo criativo e Conservadorismo carnal.  Tal classificação é mostrar as raízes do conservadorismo que tanto pode ser bom, quanto, pode ser muito ruim. Portanto, no conservadorismo criativo seu fundamento encontra-se em preservar algo visto na herança cultural como de real valor, ou seja, no conservadorismo criativo pode-se perceber decisão heróica de lutar e salvaguardar o que é certo e precioso,  ao passo que, o conservadorismo carnal apresenta uma cegueira de conceitos obstinados ao que é velho e convencional recusando-se ao exame do novo.
Sob esses dois pontos, o autor, convida seus leitores a refletirem em duas questões: A primeira é que o imobilismo no olhar para trás, quer exigido pelos líderes ou pela vontade dos próprios seguidores, ou ambos, pode em si mesma fazer que as pessoas se sintam bem, seguras e sábias; a segunda, é que esses sentimentos podem, de volta, dispor as pessoas a se juntar a fim de impor o mesmo imobilismo sobre os outros, na crença de que tal ação preste um verdadeiro serviço aos seus recipientes.
A questão abordada por Packer traz aos seus leitores uma reflexão para saber discernir o que é realmente é bom e aquilo que é ruim. Assim, o autor enfatiza que na Igreja, assim como no mundo, existem boas e más tradições, como também existe uma tradição que é cega e cegadora e outra, que é sábia e esclarecedora.
Ainda discorrendo sobre as tradições, o autor, enfatizam que a tradição caracteriza as comunidades. Ao tratar deste assunto na Igreja, se torna bem entendido e definido primeiramente como processo de passar adiante e, secundariamente, como a soma daquilo que é passado. Portanto, em algumas comunidades a tradição apresenta uma autoridade que foi divinamente inspirada e assim, deve ser obedecida, enquanto, que outras a vê como algo bom, mas que, no entanto, estar sempre sob a autoridade das Escrituras, tendo em vista, que nestas comunidades a Escritura é tida como regra de fé e prática. Há ainda alguns extremos que negam qualquer valor das tradições no meio da comunidade.
No entanto, o autor vai dizer que todos os cristãos se beneficiam e são vitimas da tradição. Os beneficiados são aqueles que, conforme o autor, apresentam uma recepção de verdades edificantes e sabedoria da fidelidade de Deus vistas nas gerações passadas, enquanto que, as vítimas são as que consideram comuns coisas que precisam ser questionadas, tratando como absolutos divinos modelos de crença e costumes que deveriam ser vistos como meramente humanos, provisórios e relativos. Ainda focalizando os pontos positivos e negativos, o autor os expõe afirmando que os pontos positivos são aqueles que proporcionam raízes, realismo e recursos, enquanto que, os pontos negativos são todos aqueles que absolutizam fatores ao são questionáveis.

Considerações Finais
O artigo é muito bom, pois, apresentam e esclarecem questões tradicionais sejam eles bons ou ruins, devem ser analisados questionados por não se tratar de uma autoridade infalível como as Escrituras. O artigo é muito interessante e recomendável a líderes de igrejas, seminaristas que estão em formação acadêmica, bem como, a membresia da igreja.


[1] É um teólogo anglicano e professor de teologia no Regent College, em Vancouver, Canadá. Seus livros já venderam mais de três milhões de exemplares. Entre os seus livros publicados em português estão O Conhecimento de Deus, Esperança, Na Dinâmica do Espírito, Entre os Gigantes de Deus e Os Vocábulos de Deus.
Foi editor da revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) e membro do comitê de novas traduções da Bíblia.
Recentemente se retirou da Igreja Anglicana por não concordar com as políticas a respeito dos homossexuais. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/J._I._Packer)


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GOSMES, Antônio Máspoli de Araújo (Org.); DEUS, Pérsio Ribeiro Gomes; PAZINATO, Pátricia e MALTA, Dâmaris Cristina de Araújo. Eclipse da Alma: A depressão e sue tratamento sob o olhar da psiquiatria, da psicologia, e do aconselhamento pastoral solidário/  Organizado por Antônio Máspoli de Araújo Gomes; São  Paulo: Fonte Editorial, 2010, 290p.

Eclipse da Alma é um livro composto pelos seus autores Antônio Máspoli de Araújo Gomes (Org), Dâmaris Cristina de Araújo Malta, Pérsio Ribeiro Gomes de Deus e Patrícia Pazinato. Estes autores reuniram em um só livro, excelente conteúdo que traz uma abordagem quanto ao assunto depressão que tem sua análise sob a ótica de tratamento da psiquiatria, da psicologia e do aconselhamento pastoral solidário.
Sua leitura é de extrema importância, pois, traz ao leitor um enriquecimento significativo nestas áreas, além de proporcionar ferramentas que vão identificar uma pessoa que sofre com um quadro depressivo.
É importante frisar que, em nenhum momento o livro traz o incentivo para o qual, pessoas não sejam qualificadas na área e que não estejam aptas para realizar diagnósticos venham desenvolver tratamentos com o fim de solucionar o grave problema, onde muitos têm sofrido.
Esta excelente obra nasceu de uma conversa entre o Dr. Rev. Máspoli de Araújo e com o Dr. Pérsio Ribeiro em julho de 2004, através de observâncias e de vivencias clínicas, assim como, pesquisas que possibilitaram um desenvolvimento do tema aprovado com a distinção no Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Eclipse da Alma além de contar com a exposição do Dr. Rev. Máspoli que traz uma abordagem sob o ponto de vista que expõe a depressão no contexto da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, da Religião e do Aconselhamento Pastoral, apresenta também, a visão contextualizada do Dr. Pérsio, psiquiatra que aborda a Depressão no Contexto da Psiquiatria e da Religião; Outra abordagem bastante interessante é quanto, a Doença Depressiva sob a ótica da Psiquiatria que traz outras contribuições relevantes através de pesquisas no campo da psicologia, da psiquiatria e da religião de Dâmaris Cristina de Araújo Malta, onde aborda a questão sob a angústia, fé e sentido de vida na pós-modernidade. Avançando ainda na leitura empolgante do livro, pode-se perceber, a contribuição da Dra. Patrícia, psicóloga fenomenológica existencial, com mais de vinte anos de experiência na clínica psicológica, no magistério superior e na coordenação de cursos de psicologia, onde, apresenta um ensaio sobre as manifestações perversas relacionadas aos contextos sócio-culturais da modernidade e suas transformações num mundo moldado pela ética do consumo as relações do mercado.
É diante destes contextos que Eclipse da Alma aborda as questões mais triviais para um maior esclarecimento do assunto que diante do contexto social e do religioso, que infelizmente, ainda não é visto por muitos, como um fenômeno patológico. Diante da relevância e dos transtornos que a depressão acarreta na vida do ser humano, o livro visa despertar o interesse nas pessoas a buscar o tratamento correto para este mal que tanto assola a sociedade pós-moderna.
Eclipse da Alma aborda os assuntos de forma clara, onde leitor consegue ter uma visão geral e aprofundada do problema de transtorno depressivo, suas causas e tratamentos a luz da medicina psiquiátrica, da psicologia e religião. Neste sentido Dr. Pérsio interage sua experiência como psiquiatra para o desenvolvimento do assunto de forma bastante relevante sob o olhar da medicina psiquiátrica e do religioso. Para isso, Pérsio aborda as questão enfatizando que no exercício da psiquiatria clinica nos últimos 30 anos, verificou-se que a religião pode trazer não só efeitos benéficos, mas influencias negativas aos doentes portadores de depressão. Para esta analise ele conta com sua observância a pacientes em hospitais de rede pública, em ambulatórios de saúde mental e principalmente em sua clínica psiquiátrica, onde se constatou a dificuldade dos mesmos quanto à compreensão da doença depressiva.
Quanto ao fenômeno religioso, Pérsio, trabalha a questão da relação com a depressão que permaneceu inalterada através da história do homem. Nesta relação existe uma causalidade como ele afirma entre a depressão quanto à divindade, demônios, pecado ou falta de fé, onde, trouxe a compreensão da essência da religião através da observação dos fatos sociais, na qual, percebe-se como o homem compreendia o mundo, ou seja, sua cosmovisão.
Continuando a discorrer o assunto da doença depressiva a luz da psiquiatria, Pércio traz alguns conceitos atuais relacionados a questões como: As neurociências que entendem que a depressão é uma desordem do funcionamento cerebral, que afeta e compromete o funcionamento normal do organismo, com reflexos ou conseqüências na vida pessoal em seus aspectos emocionais ou psicológicos, familiares e sociais. Neste sentido, também é evidenciado uma análise sob o ponto de vista biológico, genético, cognitivo, social, considerando ainda a história pessoal econômica e espiritual. Todos estes fatores são processos que contribui para o surgimento da depressão no individuo. Além destas questões, o autor aborda as síndromes depressivas e os fatores psicossociais que são elementos cruciais que contribui ou agrava o quadro depressivo.
Outro assunto muito pertinente aos dias atuais é a respeito do sentimento de angústia, onde se há uma sensação psicológica, caracterizada por abafamento, insegurança, acarretando falta de humor, ressentimento e dor e que pode produzir problemas psicossomáticos.
Assim, a Angústia, Fé e Sentido da vida na Pós-modernidade é outro assunto abordado neste livro, por Dâmaris Cristina de Araújo Malta, psicóloga e pós-graduada em gestão estratégica de pessoas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e trabalha com psicologia organizacional como analista sênio em recursos humanos.
Dâmaris aborda um conceito fenomenológico-existencial apresentando uma relação entre angústia e busca de sentido como fenômenos humanos que interagem entre si e que são percebidos cada vez mais na pós-modernidade. Assim, a autora entende que a angústia e busca de sentido para a vida são temas existenciais e que são detalhados ao longo deste trabalho. Ela enfatiza que a tristeza é entendida como uma emoção ou sintoma e depressão é uma síndrome biopsicossocial, um distúrbio do humor e que atualmente é a doença que mais tem incidência nos consultórios médicos. Neste sentido pode-se perceber que a angústia é um fenômeno que atinge todo ser enquanto perda do fundamento pessoal da existência e, conseqüentemente, do sentido de vida. A angústia também é classificada por ela de um sentimento individual e coletivo. No sentido individual a autora afirma que cada uma a sente do seu jeito, de uma intensidade singular e una. Enquanto coletiva é porque todos a sentem, diferindo a sensação e sua intensidade.
A angústia muitas vezes é confundida com tristeza e até mesmo com a depressão como afirma Dâmaris na sua excelente explanação sobre o assunto. No entanto, ela mesma aponta algumas diferenciações que caracterizam a angústia. Ela ressalta que tristeza é entendida como uma emoção ou sintoma e que na cultura ocidental é vista como uma emoção de ordem negativa. A depressão em termos psicossociais pode estar relacionada a algum sofrimento individual ou coletivo.
Outro ponto de grandes contribuições é visto no capítulo três, através das considerações de Antônio Máspoli de Araújo Gomes, Teólogo e psicólogo junguiano, doutor em Ciências da Religião pela UMESP, pós-doutor em História das Idéias pelo IEA da USP. Membro do Laboratório de Psicologia Social Estudos da Religião da USP. Professor titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aborda a Depressão no contexto da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, da religião e do aconselhamento pastoral solidário.
Ao tratar deste assunto, Máspoli, aborda a doença mental no sentido do contexto social e histórico, apresentado informações muito consideráveis em relação à depressão, trazendo fatores históricos que contribuíram para uma estrutura social, tanto, no sentido emocional e da gravidade do problema proposto. O autor do artigo em questão vem esclarecer a doença, no campo da religião, informando que nas sociedades primitivas não havia separação entre sofrimento mental, físico ou espiritual, como não havia separação entre medicina, magia e religião.
O que Máspoli ressalta é o próprio conceito da doença mental como um fenômeno recente, ou seja, o homem primitivo considerava a doença mental como manifestações do sagrado em sua forma mais negativa. Dessa forma, era comum, a visão dos religiosos que acabam fazendo o trabalho de curador profissional, tais como: o Xaminismo e até mesmo a antiga medicina judaica enfatiza a culpa do homem diante do seu criador. O texto vem trazer a questão do problema depressivo diante da ótica da psiquiatria, onde as causas mágico-religiosas e das médico-psiquiatricas são abordados. Neste sentido a depressão é vista como a imperfeição do amor, ou seja, o deprimido sofre pela ausência de amor. Um dado interessante e muito preocupante que é exposto pelo autor, e que segundo a OMS, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas diretamente por transtornos mentais e a maioria delas nos países em desenvolvimento. Além de trazer o conceito de Jung sobre o assunto, Máspoli, apresenta também, classificações dos diferentes tipos de depressão, buscando conceitos em Freud que classifica as neuroses de duas maneiras: as neuroses de angústia e as de psicoses de angustia.
A tratar da questão do desanimo profundo e penso do ser. O autor trabalha a questão melancólica como a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de culminar o sentimento de punição. É, portanto, apresentado vários quadros e sintomas de crises depressivas em toda fase do ser humano. Como também, os tratamentos consideráveis as questões acima expostas. Sendo assim, Máspoli, enfatiza que a depressão é uma doença a não subestimar, mas que se pode tratar com ótimos resultados, recorrendo aos meios mais seguros e eficazes
A Perversão, Expressões Depressivas e Religião é outro assunto proposto por então, Patrícia Pazinato, bacharel em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, especialização em Ensino de Terceiro Grau pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mestrado em Psicologia: Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutora em Ciências da Religião: Ciências Sociais e Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.
A perversão é aborda pelo olhar freudiano, como é ressaltado no livro onde informa que na concepção freudiana a relação entre perversão e a neurose está posta como reversa. Neste sentido, é explicado que o efeito a reversão apresenta sentimentos conduzidos ao sadismo que conseqüentemente são transformadas em masoquismos. O que fica claro em relação à questão é o fato que a perversão é produzida pela ausência de algo, um distúrbio na psique. Toda esta questão é entendida de um sentido abrangente, onde se constituiu um modo novo de abordar as condições psíquicas correspondentes a estados de infelicidade e a comportamentos anti-sociais. Quanto aos comportamentos sociais a autora entende que, o pacto social articula-se na ética do caráter, da cultura, da educação, dos hábitos e das habilidades sociais, remetendo-se a égide de um sujeito que busca a realização no horizonte de conseqüências, ou seja, com responsabilidade social por seus atos.
Neste sentido, Patrícia aborda uma questão bastante relevante no campo da sociedade, quanto ao comportamento pervertido e suas conseqüências, que tem sua abrangência no Estado, caracterizando a vida pública como objeto de reflexão.
A questão do prazer e a ausência do prazer também são caracterizadas por um ato pervertido, onde o gozo é instrumento de busca para satisfação pessoal. Pode-se dizer que um animal satisfeito deve  ser feliz. Mas, o mesmo não acontece com os seres humanos. O ser humano pode ter “tudo”, e, no entanto, pode sentir um vazio que é caracterizado em vazio existencial.

Considerações Finais.
A Obra “Eclipse da Alma” é de extrema importância pra aos estudantes tanto, na área de teologia, quanto, nas áreas de filosofia, psicologia e porque não, na área da medicina, uma vez que o livro aborda questões pertinentes ao funcionamento psíquico humano.
É recomendável aos pastores, teólogos, filósofos, psicólogos e demais profissionais que se interessam pelo comportamento humano.

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LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, 287p.

A Bíblia e seus Interpretes é uma obra de grande conteúdo e de grande importância para as academias evangélicas, principalmente aquelas que são de cunho reformado. Esta é uma obra trazida até nós pelo então, competente Rev. Dr. Augustus Nicodemos que através de suas constatações em cursos ministrados sobre o assunto ao longo de um período de dez anos, nasce então, esta excelente obra.
O livro que traz várias informações ao longo da história e apresenta alguns pontos bastante interessantes, onde, o próprio autor tem o cuidado de enfatizar, apresentando o livro com uma visão do ponto de vista reformado, enfocando assim, a responsabilidade do autor para com a doutrina reformada quanto as questões da inspiração e infablidade das Escrituras, assim como, os princípios hermenêuticos utilizados. Neste sentido o autor entende que somente uma hermenêutica que apresente de fato um compromisso com a real mensagem do texto pode contribuir para uma interpretação das Escrituras.
A bíblia foi escrita por vários séculos por homens que viveram em épocas diferentes, assim como, apresenta um distanciamento em várias áreas. Nicodemos aborda esta questão enfatizando as duas naturezas da Bíblia. Assim, o autor levanta a questão da Bíblia como livro humano e um livro divino. Como livro humano, é apresentado o fenômeno do distanciamento em diversas áreas, tais como: o distanciamento temporal que nos separa temporalmente em dois milênios. Nesta separação se pode constatar uma grande lacuna nos aspectos culturais e lingüísticos dos escritores das Escrituras. Outro aspecto abordado é o distanciamento contextual que aponta para os livros da Bíblia como escritos que atenderam a determinadas situações que já se perderam no passado distante. A hermenêutica bíblica historicamente sempre buscou transpor as dificuldades criadas pela distancia contextual. Continuando essa questão, pode-se também verificar que o distanciamento cultural e o lingüístico são também abordados. No cultural, o mundo em que os escritores viveram já não existe, pois, está no passado distante, o que torna bastante complicado a interpretação sem uma hermenêutica que busque novamente as realidades dos fatos. Da mesma forma, a lingüística, ou seja, as línguas em que a Bíblia fora escrita também já não existem mais, uma vez que, já não se falam mais o hebraico, o grego e o aramaico bíblicos nos dias de hoje, o que complica ainda mais a interpretação. Dentro deste contexto em que a bíblia é vista como um livro humano, ainda, há o fato do distanciamento autoral, que tem exigido dos leitores da Bíblia ao longo dos séculos a tarefa de interpretá-la. Neste caso, é tentar transpor o distanciamento em suas varias formas até chegar mais próximo ao sentido exato do texto.
A Bíblia como livro divino, o autor aborda questões bastante pertinentes, enfatizando a Escritura como sendo inspirada por Deus, e neste caso, ela é a Palavra de Deus. Embora, a Bíblia seja um livro divino, o autor tem o cuidado de mencionar que não se pode esquecer que ela precisa também ser vista como humana, para que sua mensagem seja coerente aos nossos dias, como ele mesmo afirma: “A divindade e a humanidade das Escrituras devem ser mantidas em equilíbrio”. A Escritura sendo um livro de autoria divino, deve-se levar em consideração as seguintes questões: O distanciamento natural, espiritual e moral, pois. esses distanciamentos devem ser considerados pelas seguintes razões, conforme o autor faz suas ponderações.
 No distanciamento natural a condição do seres humanos impõe limite à nossa capacidade de entender e compreender as coisas de Deus, neste sentido, é pertinente a advertência que se faz para os interpretes da Bíblia não ignorar e pensar que bastam ferramentas hermenêuticas corretas para que se entenda a revelação de Deus. Historicamente, muitos testes interpretam e reconhecem a necessidade de transpor essa a distancia  da iluminação do Espírito. O distanciamento moral é outro fator que precisa levar em consideração devido a corrupção de nossos corações; o distanciamento natural é verificado nesta etapa, ou seja, nossa condição de seres humanos impõe limites à nossa capacidade de entender e compreender as coisas de Deus, o que, também acarreta  um distanciamento espiritual, que apresenta um abismo epistemológico causado pela Queda é certamente o ponto de partida. E assim, a regeneração e a conversão são respostas de Deus a esta condição.
Os primeiros intérpretes do Antigo Testamento é um ponto que o autor aborda, onde busca uma investigação histórica dos primeiros homens no contexto de interpretação bíblica. Os principais deles citados nesta obra são: Os próprios autores do Antigo Testamento, os rabino, a comunidade de Qumran, Filo de Alexandria e Flávio Josefo.
Algumas características da interpretação das Escrituras no Antigo Testamento  são sinalizadas pelo auto que afirma: “Não podemos, a rigor, falar de um método de interpretação comum a todos eles, mas podemos apontar alguns princípios que pareciam controlar este uso das Escrituras em suas obras”. Por isso, é ressaltada a atitude para as Escrituras, assim como, o propósito aplicativo, a consciência de autoridade devem ser levadas em conta. O que o livro deixa bem claro é quanto o uso de Escrituras anteriores pelos autores do Antigo Testamento são uma das principais chaves para o desenvolvimento de uma teologia bíblica do Antigo Testamento.
Os rabinos tiveram uma grande contribuição na interpretação das Escrituras, assim, Nicodemos afirma que as Escrituras eram obra literária central na vida dos judeus daquele período e que os três grandes marcos que representavam a estabilidade da nação caíram: a cidade de Jerusalém, o templo e a monarquia davídica, acarretando assim, uma volta de atenção para a lei. A centralidade das Escrituras deu origem a um vasto material interpretativo, conservado e transmitido, a princípio, de forma oral.
As fontes para o estudo da interpretação Rabínica das Escrituras trouxeram suas contribuições. O aparecimento e o desenvolvimento da literatura rabínica por vários estágios importantes, desde o midrashim, passando pelo talmude. Sua exegese trouxe uma atenção significativa para os princípios racionais no que tange a interpretação das Escrituras. Continuando a questão interpretativa da Bíblia, o livro aborda a Comunidade do Mar Morto que foi uma descoberta no inicio de 1947, onde se encontrou alguns manuscritos alojados em uma caverna de Qumran, situada na margem do Mar Morto. Esses manuscritos trouxeram grandes importâncias para o desenvolvimento do processo de interpretação das Escrituras, pois, refletiriam o tipo de interpretação judaica. A hermenêutica dos interpretes de Qumran se fez necessário, pois, aproximavam as Escrituras com uma agenda bastante definida, ou seja, a interpretação das Escrituras em Qumran não era feita no vácuo. Era controlada pelas crenças e convicções dos seus membros.
Um expoente que ajudou e muito nesta questão e que o livro aborda com toda propriedade é Filo de Alexandria. Aqui podemos verificar que a obra de Filo é de extrema importância para o desenvolvimento do conhecimento na área de interpretação bíblica. Filo que embora nunca se convertesse ao cristianismo teve grandes contribuições no sentido de influenciar seu método na academia patrística. Sua contribuição se deu na sua formação acadêmica, tanto, na área filosófica, como sua formação de origem judaica. Filo também era um profundo conhecedor da Septuaginta e das tradições do judaísmo. No entanto, suas maiores contribuições para o cristianismo, no que tange, a questão de interpretação, estão no seu campo de pesquisa sobre as Escrituras do Antigo Testamento. Seu método exegético se da através de alegorias, muito embora, ele utilizasse do método literal de interpretação. A regra de interpretação utilizada por Filo era que atrás de toda e qualquer sentido literal subjaz o sentido alegórico, que é o verdadeiro e mais importante.
Flávio Josefo foi contemporâneo de Jesus Cristo, por isso, sua contribuição se faz bastante necessária para o entendimento contextual da época, uma vez que, sua interpretação das Escrituras tem características semelhantes à dos cristãos, em alguns aspectos, devido ao ambiente comum em que viviam e por serem herdeiros do Judaísmo. Suas obras foram de suma importância histórica e que favorece até hoje o método interpretativo das Escrituras. Homem de profundo conhecimento do hebraico, aramaico e do grego apresentou uma interpretação apologética de conteúdo teológico. Nicodemus afirma que Josefo estava controlado pelo desejo de apresentar a história com um cunho defensivo, apologético, uma resposta aos ataques anti-semitas de sua época. Sua interpretação rejeitava todo e qualquer processo alegórico.
No capítulo os autores do Novo Testamento, o autor deixa bem claro que não poderá se aprofundar em várias questões pertinentes ao assunto, pois, seu interesse será somente mostrar como a interpretação dos autores do Novo Testamento se encaixa no milieu hermenêutico da época. Sendo assim, o autor deixa que dará um maior destaque aos escritos do Apóstolo Paulo, uma vez que, foi ele que mais escreveu no Novo Testamento.
Paulo apóstolo de Jesus Cristo, foi um homem de vasto conhecimento filosófico e das leis judaicas e que através de seus escritos, percebe-se que fora totalmente utilizado por Deus para a compilação do Novo Testamento. O próprio apóstolo considera as Escrituras como sendo inspirada por Deus. Dessa forma, é esclarecedor as suas citações do Antigo Testamento no Novo Testamento. Augustus Nicodemus ressalta a questão enfatizando da seguinte maneira: “O Novo Testamento está impregnado do Antigo e indissoluvelmente ligado a ele”.
O que o leitor do Novo Testamento deve sempre levar em conta para uma interpretação que mesmo sendo superficial, deve-se ter em consideração que Cristo é a chave das Escrituras. Esta questão é  um dos princípios básicos tanto no A.T e N.T. Esta visão diferencia-se totalmente da exegese dos rabinos e dos essênios que ainda não entendem que o messias já chegou. Portanto, o caráter cristológico da hermenêutica dos autores do Novo Testamento torna-se radicalmente diferente dos rabinos e essênios.
Ao longo da história surgiram vários movimentos que de certa forma contribuíram e ainda contribui para a boa interpretação das Escrituras, tais como os Pais da Igreja, que desenvolveram a teologia patrística. Esses homens tiveram um grande valor em uma época de intensos debates teológico sobre questões doutrinárias vitais para a sobrevivência da Igreja. Suas exegeses foram fundamentais para questões doutrinárias e afirmações de Fe. A partir destas questões surgem duas escolas que contribuíram para o processo interpretativo das Escrituras: Alexandrinos e Antioquianos. A Escola de Alexandria se utilizava e abusava dos métodos de alegorização, enquanto, os Antioquianos eram mais voltados para sentido literal do texto.
No contexto destas duas escolas surgiram grandes homens e pensadores bíblicos, tais como: Clemente de Alexandria, Orígines, Dionísio o Grande, Eusébio de Cesaréia entre outros. Já na Escola de Antioquia surgem grandes nomes como: Deodoro de Tarso e João Crisóstomo.
Outras contribuições se deram apartir do 4º. e 5º. séculos  com o surgimento dos Pais Latinos que apresentaram excelentes obras para a interpretação das Escrituras. Dentre eles, estão: Tertuliano, Jerônimo e Agostinho. Essa escola teve como principio de interpretação o princípio de interpretação da Escola de Antioquia, no entanto, este princípio não era regra em si, sendo que, algumas vezes os interpretes alegorizava o Antigo Testamento. Algo de muito interessante que o autor aborda é que os interpretes latinos especialmente Jerônimo, deixa a lição para evitarmos que nossas crenças prediletas acabem por controlar nossa interpretação.
O livro aborda outro grupo que trouxe grandes contribuições para a interpretação da bíblica. Os Reformadores que rejeitaram e combateram o conceito de que a hierarquia da Igreja era a autoridade máxima em questões religiosas. Eles insistiram que a Bíblia era o Juiz maior entre todas as controvérsias religiosas, interpretando-se a si mesma através de suas partes. Esse princípio ficou sendo como um princípio da base da hermenêutica, ou seja, as Escrituras se interpretam a si mesma.
Os reformadores resgataram então, a posição central da Bíblia na fé e na prática da Igreja que a passou a vivenciar outro princípio: A Bíblia e a regra de fé e prática do cristão. Partindo dessa perspectiva o autor levanta algumas características da interpretação dos Reformadores. Os reformadores tinham a preocupação em se chegar ao sentido óbvio, claro e simples de cada passagem da Escrituras. E isso seria feito pela observação cuidadosa da gramática  e do contexto. Essa ênfase é conhecida como o Sentido Literal, Gramático-Histórico do Texto. Também é apresentado algumas questões pertinentes, uma vez que, os Reformadores entendiam a Bíblia como um livro divino. Por isso, destacou-se a necessidade da iluminação do Espírito Santo, a necessidade de estudar as Escrituras, a Escritura como Escritura que estabeleceu que a única regra infalível de interpretação das Escrituras.
Ao longo da história surgiram fontes interpretativas importantes que auxiliam para uma melhor compreensão dos textos que foram escritos muito além de nossa época. As informações coletadas neste livro são extremamente relevantes, pois, o autor levanta questões hermenêuticas totalmente dogmáticas como da Contra-Reforma que favorecia muito mais as questões institucionais. No entanto, surgem movimentos Pós-Reforma como os Puritanos que apresentou obras literárias bastante significativas como a Confissão de Fé de Westminister. Os puritanos produziram abundante material teológico, firmado em princípios sólidos de interpretação bíblica cuja raiz estava na hermenêutica dos reformadores. Entretanto, apesar de unânimes nos pontos que caracterizaram o puritanismo, seus maiores intérpretes divergiam por vezes entre si em questões polêmicas. Umas das questões neste caso, é o controle da exegese pela dogmática que aparecia às vezes na interpretação de alguns puritanos que permitiam que sua exegese fosse controlada por um aspecto teológico dominante. O entanto, a contribuição dos puritanos fora bastante significativa para a hermenêutica de nossos dias. Eles deixaram um legado que influencia ainda e muito na interpretação da bíblia em nossos dias.
A interpretação das Escrituras na Modernidade apresentou o Iluminismo como um movimento surgido no início do século 18 com algumas pressuposições filosóficas, onde, foram moldados pelo racionalismo de alguns pensadores como Descartes, Spinoza e Leibniz, assim como, pelo empirismo de Locke, Berkeley e Hume. O impacto do Iluminismo na Interpretação da Bíblia foi à negação da intervenção divina, que na História, quer nos registros Bíblicos. Conseqüentemente, os milagres foram vistos sob outra ótica que foge a realidade, pois, o milagre passa apenas pelo lado da criação da fé. Ao lado d Iluminismo encontramos o racionalismo que foi estabelecido pela razão com medida de verdade em questões teológica, ou seja, o critério para a determinação da veracidade dos milagres passou a ser ciência racionalista que começava a predominar nas academias e universidades.
Com a chegada da pós-modernidade também surge à pluralidade da verdade. Esta questão acarreta prejuízos para a interpretação bíblica, tendo em visto, que a verdade é algo relativo, ou seja, o movimento pós-moderno rejeita a verdade absoluta enfatizando que toda verdade é relativa e depende do contexto social e cultural onde as pessoas vivem. Este fato é preocupante e nocivo, pois, prende a Escritura ao contexto social e cultural das pessoas que passavam ver a verdade de Deus como algo relativo. A pós-modernidade causou um tremendo impacto na interpretação cristã das Escrituras que afetou profundamente a academia cristã, produzindo mudança na natureza da hermenêutica.
No entanto, os desafios da atualidade são grandes no que se refere aos intérpretes da Bíblia. Neste ponto o autor faz algumas ponderações quanto ao método histórico-critico, pois, segundo o autor este método é bom, uma vez que, quebra as coisas em pedacinhos. O grande problema encontra-se em não saber juntar os pedacinhos espalhados. Outra problemática é a questão da conjectura que este método trabalha, assim como, a sua contextualização.

  Considerações Finais
A obra do Rev. Dr. Augustus Nicodemus é um excelente material de vasto conteúdo e informações para o enriquecimento daqueles que buscam o saber. Os dados coletados pelo autor nos mostram que a história da interpretação é muito vasta ao ponto, do autor ter a sensibilidade de colocar como título de capa: “Uma breve história da interpretação. A Bíblia e seus Intérpretes”.
Esta obra vem enriquecer as academias evangélicas quanto ao estudo das interpretações bíblicas no decorrer da história. É altamente recomendada ao professores e estudante de teologia e teólogos, assim como, as demais pessoas que se interessam em obter um excelente livro de conteúdo.