quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Em princípio, como funciona o discipulado.

Em Princípio, Como Funciona o Discipulado?
Essencialmente, o discipulado funciona através de instrução e imitação. Porém, o discipulado funciona melhor através do amor. À medida que nós amorosamente instruímos crentes mais novos no caminho da piedade e vivemos de maneira recomendável, eles crescem em semelhança a Cristo por imitarem nossa vida e doutrina (ver 1Timóteo 4.16).
Instrução: A Bíblia chama pastores e pais para instruírem aqueles que foram confiados aos seus cuidados (Provérbios; Gl 6.6; Ef 6.4; 1Ts 4.8; 1Tm 1.18; 6.3; 2Tm 2.25; 4.2). Ela também chama todos os crentes a instruírem uns aos outros (Rm 15.14).
Imitação: Cristãos são imitadores, primeiro de Deus, depois uns dos outros. Nós crescemos na graça de Deus por ouvirmos e imitarmos. Considere as seguintes passagens:
• “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1);
• “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram” (Hb 13.7);
• “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco” (Fp 4.9);
• “Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança” (2Tm 3.10);
• “Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom” (3Jo 11).
Amor: As pessoas imitarão a sua vida mesmo quando você não as ama. Mas um líder que lidera com amor apresenta a melhor imagem de Cristo, e as pessoas irão segui-lo melhor quando você as ama.
Amizade: Em um certo sentido, discipulado é simplesmente amizade, mas amizade com uma direção Cristocêntrica. O que amigos fazem? Eles imitam uns aos outros. No discipulado, nós nos aproximamos de outros para crescermos em semelhança a Cristo e para ajudá-los a crescerem em semelhança a Cristo.
Como ser um discípulo? (i) Ouça e veja como cristãos mais maduros trabalham, descansam, constroem uma família, lidam com conflitos, evangelizam seus vizinhos, perseveram nas aflições, servem na igreja, ou lutam contra o pecado. (ii) Imite-os!
Na Prática, Como Posso Discipular Outros Cristãos?
• Faça parte de uma igreja.
• Chegue cedo aos encontros da igreja e fique até tarde.
• Pratique a hospitalidade para com os membros de sua igreja.
• Peça a Deus por amizades estratégicas.
• Se possível, inclua um item em seu orçamento familiar ou pastoral para um tempo semanal com companheiros cristãos. Discuta esse assunto com sua esposa. Se possível, estipule no orçamento um item semelhante para a sua esposa também.
• Agende regularmente cafés-da-manhã, almoços, ou algum outro compromisso social culturalmente aceitável com indivíduos ensináveis (do mesmo sexo). Dependendo da pessoa, você pode decidir encontrá-la uma vez, ou indefinidamente, ou por um número preestabelecido de vezes (cinco, por exemplo). Se você e o indivíduo têm algum passatempo em comum, pense em maneiras de fazerem isso juntos.
• Pergunte-lhes sobre suas vidas. Pergunte-lhes sobre seus pais, esposa, filhos, testemunho, trabalho, caminhada com Cristo, e assim por diante. Ao fazer essas perguntas, porém, faça-o de uma maneira que seja apropriada ao seu contexto cultural (não os assuste!).
• Compartilhe sobre sua própria vida.
• Procure maneiras de ter conversas espirituais. Talvez vocês decidam ler a Bíblia ou algum outro livro cristão juntos.
• Considere as necessidades físicas ou materiais deles. Eles se beneficiariam da sua ajuda?
• Ore com eles.
• Dependendo da situação no seu lar, convide a pessoa para visitar sua casa ou passar tempo com sua família. Deixe que ela veja como você vive.
• Procure maneiras de orar pela pessoa durante a semana, individualmente e/ou com sua esposa.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

As Duas Vontades de Deus - John Piper

O pastor John Piper explica a diferença entre a vontade moral e a vontade soberana de Deus.

Eu gostaria de ajudá-lo a distinguir entre a vontade moral de Deus e sua vontade soberana. Isso lhe ajudará a entender a aparente contradição entre essas duas declarações:

1. Deus faz todas as coisas de acordo com sua vontade (vontade soberana).

 “[Deus] segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão (…)" (Daniel 4:35).

"Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou." (Salmo 115:3).

2. Algumas coisas acontecem que não são a vontade de Deus (vontade moral).

 "Mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 João 2:17), o que implica que alguns não fazem a vontade de Deus.

"[O Senhor] não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se." (2 Pedro 3:9), mas alguns perecem.

Em outras palavras, a Bíblia faz uma distinção entre a vontade de Deus, entendida como o seu propósito que nunca é frustrado em nenhuma circunstância, e da vontade de Deus, entendida como sua ordem moral.

Uma das evidências mais claras da diferença entre a vontade soberana de Deus e sua vontade moral é o fato de que Deus moralmente proíbe o assassinato:

 "Não matarás o inocente" (Êxodo 23:07).

E ainda assim Ele quis o assassinato de seu filho:

 "Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer.” (atos 4:27-28).

Uma das verdades mais elevadas e santas sobre Deus que nós aceitamos quando nos submetemos a verdade bíblica é que Deus não peca quando determina que o pecado exista. Isso é fundamental, porque o projeto de Deus na cruz depende disso.
Os caminhos de Deus e sua vontade são puros. Ele tem seus propósitos santos em ordenar que as coisas aconteçam.

 "Ele faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11).

"(…) todas as suas obras são verdade, e os seus caminhos juízo certo." (Daniel 4:37).

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sola Fide

Por J. V. Fesko

Em 1647, um grupo de pastores e teólogos reformados reunidos na Abadia de Westminster, em Londres, elaborou um conjunto de documentos que hoje conhecemos como os Padrões de Westminster, que incluem a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo. Os teólogos procuraram sistematizar o ensino reformado a fim de criar uma igreja Reformada unificada nas Ilhas Britânicas. Na pergunta e resposta 33 do Breve Catecismo, eles resumem um dos principais pilares da tradição reformada:

O que é a justificação? Justificação é um ato da livre graça de Deus, através da qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si, somente pela justiça de Cristo a nós imputada e recebida pela fé somente.

Incluída nesta breve declaração está a ideia de que os pecadores são justificados sola fide- somente pela fé. Mas o que significa sola fide? Antes de mergulhar em seu significado, um pouco de contexto histórico é essencial para entender a sua importância. Uma pessoa só pode apreciar verdadeiramente uma luz brilhante contra o pano de fundo da escuridão.

Um Pano de Fundo das Trevas

Quando Martinho Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, em 1517, demorou algum tempo para que as implicações da sua ação reverberassem ao longo da história. O fruto de seu trabalho emergiu em algumas confissões luteranas e reformadas, as quais afirmaram que os pecadores são declarados justos aos olhos de Deus, não com base em suas próprias boas obras, mas somente pela fé, somente em Cristo e pela graça de Deus somente - sola fide, solus Christus e sola gratia. A Igreja Católica Romana foi compelida a responder, e o fez no famoso Concílio de Trento, quando realizou uma série de pronunciamentos sobre a doutrina da justificação em sua sexta sessão, em 13 de janeiro de 1547.

Dentre os muitos pontos que Roma apresentou, vários deles reivindicações-chave, os principais foram: (1) que os pecadores são justificados pelo seu batismo, (2) que a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa, (3) que os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo, e (4) que uma pessoa pode perder sua posição de justificação. Todos esses pontos se fundem na seguinte declaração:

Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema. (Canon IX)

A Igreja Católica Romana claramente condenou a sola fide - não confessou que os pecadores são justificados somente pela fé.

Uma Luz na Escuridão

Em contraste com esse pano de fundo, podemos apreciar como o Breve Catecismo define biblicamente a doutrina da justificação e explica o que é sola fide. Para Roma, os pecadores são justificados pela fé e obras. Sua doutrina da fé é introspectiva - uma pessoa deve olhar para dentro de suas próprias boas obras, a fim de ser justificado. O Breve Catecismo, por outro lado, argumenta que a fé é extrospectiva - os pecadores olham para fora de si, para a obra perfeita e completa de Cristo para a sua justificação. Mas o que, especificamente, os pecadores recebem somente pela fé?

O primeiro benefício da justificação é que Deus perdoa todos os nossos pecados passados, presentes e futuros. Os teólogos mencionam a citação que Paulo fez do Salmo 32: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”(Romanos 4:7,  Salmo 32:1). O segundo benefício da justificação é a aceitação do pecador como justo aos olhos de Deus "apenas pela justiça de Cristo imputada a nós". Ter o status de “justo” conferido a si mesmo é bastante surpreendente. Quando um juiz declara uma pessoa inocente, isso simplesmente significa que ele não é culpado de ter quebrado a lei. Mas, se um juiz declara uma pessoa justa, significa que não somente ela é inocente de violar a lei, mas também que ela cumpriu a exigência da lei. Tomemos como exemplo o roubo. Para uma pessoa ser justa nesse caso, ela deve abster-se de roubar. Mas, além disso, ela também deve proteger os bens dos outros. Ela deve atender as demandas negativas e positivas da lei contra o roubo. Por justificação, um pecador é aceito como justo, não por uma parte da lei, mas por toda a lei - cada mandamento, cada jota e til. Ele é contado como aquele que guardou todas as dimensões de toda a lei. De onde surge essa justiça?

A justiça, ou obediência, pertence a Cristo. Os teólogos citam duas passagens-chave das Escrituras para fundamentar a imputação, ou confirmação, da justiça de Cristo para o crente. Primeiro, eles citam 2 Coríntios 5:21:“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. De acordo com as Escrituras, Cristo era o Cordeiro imaculado, perfeito e sem pecado (1 Pedro 1:19; Hebreus 4:15). Ainda, Cristo carregou o pecado do seu povo - foi imputado a ele e ele o carregou. A maneira pela qual Cristo foi imputado com o nosso pecado para que ele pudesse suportar a maldição da lei (imputação) é a mesma maneira pela qual recebemos a perfeita obediência de Cristo - seu cumprimento de todas as exigências da lei. Os teólogos citam Romanos 5:19 para este efeito: “Porque, como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, assim, pela obediência de um só homem muitos serão constituídos justos” (versão do autor). A desobediência de Adão foi imputada a todos os que estão unidos a ele, e a obediência de Cristo, o último Adão, é imputada a todos aqueles unidos a Jesus (1 Coríntios. 15:45).

Nunca os dois devem se encontrar

Se já não estiver aparente, a visão dos teólogos de Westminster sobre a justificação é diametralmente oposta à visão da Igreja Católica Romana. Para Roma, a justificação do pecador é uma tentativa de alquimia doutrinária, tentando misturar as obras de Cristo com as do crente, a fim de produzir o ouro da justificação. A teologia reformada, por outro lado, sistematizada no Breve Catecismo Menor e refletindo o ensino das Escrituras, repousa a justificação do pecador somente sobre a obra de Cristo. O único meio pelo qual a perfeita obra de Cristo é recebida é pela fé somente - sola fide. Nós não temos outra embaixada de paz para encontrar abrigo da justa ira de Deus, a não ser na perfeita justiça e sofrimento de Cristo, e não há outra ponte entre o homem e Cristo, somente a fé.

***
- Sobre o autor: Dr. J. V. Fesko é reitor acadêmico e professor de Teologia Sistemática e Teologia Histórica no Westminster Seminary California. Ele é autor do livro Word, Water and Spirit: A Reformed Perspective on Baptism.

Fonte: Editora Fiel

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O Temor faz parte da vida cristã

Frequentemente é dito que o temor não tem lugar na vida do Cristão porque: "No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor." (1 João 4:18).
Mas no Novo Testamento há várias ordens para temer; por exemplo, Romanos 11:20: "pela sua incredulidade [os Judeus] foram quebrados, e tu estás em pé pela . Então não te ensoberbeças, mas teme." Semelhantemente, Hebreus 3:12 alerta contra a incredulidade (apesar de que a palavra "temer" não é usada): "Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo". (Outros textos aconselhando a temer: 1 Pedro 1:17; 2:17; Filipenses 2:12-13; Lucas 12:5; Isaías 66:2; Atos 9:31; 2 Coríntios 5:11; 7:1 etc).

Juntando as Peças

Nós não devemos achar que os escritores do Novo Testamentos estão tomando lados, uns em favor do temor (Paulo, o autor aos Hebreus) e outros contra (João). Porque apesar de Romanos 11:20 recomendar o temor, Romanos 8:15 diz: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos".
E apesar de Hebreus 3:12 recomendar temor de um coração incrédulo (que é o mesmo que dizer o temor do Deus que retribui incredulidade com castigo), Hebreus 4:16 diz: "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno."
Portanto, o problema não é uma contradição entre os autores dos livros do Novo Testamento, mas o problema é como pode o mesmo autor dizer "Tema!" e ao mesmo tempo, "Não temas! Tenha confiança." A solução será encontrada, penso eu, na sugestão de que um temor sensato de Deus nos motivará a confiar em sua misericórdia demostrada em Cristo e essa "confiança com tremor" irá gradativamente remover o medo que nos levou a isso, conforme vemos mais claramente o que o Senhor tem feito por nós.

Como Somente o Perfeito Amor Lança Fora o Temor

Eu estava lendo a Antologia de C. S. Lewis por George MacDonald e encontrei alguns comentários úteis. Ele observa que absolutamente nada menos que o amor perfeito (tanto de Deus pelo homem quanto do homem por Deus) deveria lançar fora o temor. Nós somos propensos a querer livrar-nos do temor a qualquer custo, de qualquer jeito. João diz que há e deveria haver apenas um jeito—amor perfeito por Deus lança fora o temor.
Nós pensamos que seremos cristãos melhores quando pararmos de temer— o que pode ser completamente falso. Nós seremos cristãos melhores quando amarmos mais a Deus pelo Seu perfeito amor. O aperfeiçoamento do amor necessariamente afasta o temor, mas o afastamento do temor não necessariamente significa que o amor está sendo aperfeiçoado. Alguém pode desejar livrar-se do temor da mesma forma que quer livrar-se de uma consciência pesada, e ele pode usar a mesma forma enganosa para acabar com seu desconforto (por exemplo, álcool, drogas, ou mais comumente, a eliminação de todos os mandamentos na Bíblia de temer a Deus e amá-lO com todo o seu coração. Veja Deuteronômio 10:12).
MacDonald escreve (página 67):
Persuada os homens de que o temor é uma coisa vil, que é um insulto a Deus, que Ele não irá tolerar isso—enquanto eles ainda estão apaixonados pela própria vontade, escravos de todo movimento de impulso impetuoso — e qual será a consequência? Eles irão insultar a Deus como um ídolo descartado, uma superstição, algo para se jogar fora e cuspir em cima. Depois disso, quanto eles aprenderão sobre Ele?

Amor Superior ao Temor

O temor é um vínculo imperfeito com Deus, mas é um vínculo que deveria ser substituído somente por um vínculo infinitamente mais profundo—o vínculo do amor (página 67). Nada mais deveria lançar fora o temor.
Deveria, então, o medo ter um papel até um certo ponto e depois disso nunca mais na vida do Cristão? O ponto após o qual o medo não terá mais lugar na vida no Cristão é o ponto no qual o seu amor é perfeito. Mas nenhum de nós é perfeito em amor ainda, todos nós temos momentos nos quais nosso prazer em Deus esmorece e as "coisas que se vêem" tornam-se enganosamente atraentes.
Nesses momentos, nós necessitamos de um alerta de Paulo (Romanos 11:20), ou de Hebreus (3:12), ou de Jesus (Lucas 12:5). Nesses momentos nós não podemos estar completamente livres do temor, porque nós não estamos completamente controlados pelo amor por Deus; isto é, nós não estamos vivendo completamente pela fé. Mas o temor que como Cristãos devemos sentir é por si só uma obra da graça. É um temor que nos leva de volta ao amor por Deus e à confiança em sua misericórdia e, desse modo, destrói a si mesmo. O temor é o servo apropriado do amor para os santos imperfeitos.
O segundo verso do hino "Preciosa Graça" não é meramente uma experiência do tipo de-uma-vez-por-todas:
A graça, então, meu coração
do medo me libertou.
Oh, quão preciosa salvação
a graça me outorgou!

Jonathan Edwards Sobre Amor e Temor

No dia 7 de Janeiro de 1974, eu encontrei a seguinte citação de Jonathan Edwards em seuTratado Sobre Afeições Religiosas (Londres, 1796), p. 102ff. Penso que ele expressa exatamente o que estou tentando dizer:
Deus, então, planejou e constituiu coisas em Seus desígnios para Seus próprios filhos de forma que quando o amor deles decair e o exercício do amor falhar ou se tornar fraco, o temor erga-se; porque então eles precisam dele para impedí-los de pecar e para animá-los a cuidar do bem de suas almas, e assim salvá-los para a vigilância e diligência na religião; mas Deus também ordenou que quando o amor crescer e estiver sendo exercitado vigorosamente, o temor deverá desaparecer e ser afastado porque já não precisarão mais dele, tendo um princípio superior e mais excelente para afastá-los do pecado e encorajá-los em sua responsabilidade.
Não há princípios que influenciem a natureza humana ou que conscientizem os homens tanto quanto um destes dois, temor ou amor. E, portanto, se um desses não prevalecer ao passo que o outro decai, o povo de Deus quando caído na morte e nas armações carnais, quando o amor estiver adormecido, estaria lamentavelmente exposto, de fato. E, portanto, Deus sabiamente ordenou que esses dois princípios opostos de amor e temor devem crescer e diminuir como dois lados opostos em uma balança; quando um levanta o outro abaixa...
O temor é lançado fora pelo Espírito de Deus somente quando o amor prevalece: e é mantido por Seu Espírito somente quando o amor adormece...
© Desiring God | Satisfação em Deus
Permissões: Você tem permissão e nosso incentivo para reproduzir e distribuir este material em qualquer formato contanto que não altere de maneira alguma as palavras e não cobre valor algum além do custo de reprodução. Para postar na internet, preferimos um link para este documento no nosso site. Quaisquer exceções às regras ditas devem ser aprovadas pelo Desiring God.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A irrelevância de tantos sermões – Por que a pregação expositiva é importante

por Albert Mohler Jr.

Albert Mohler
Albert Mohler
Se a pregação é central na adoração cristã, de que tipo de pregação estamos falando? A pura irrelevância de muito da pregação contemporânea é um sintoma severo de nosso Cristianismo superficial. Quando o ministério do púlpito não tem conteúdo, a igreja fica desprovida a palavra de Deus, e sua saúde fidelidade são imediatamente diminuídas.
Muitos evangélicos são seduzidos pelos proponentes de pregações tópicas ou narrativas. A força declarativa da Escritura é suavizada pela demanda por histórias e a forma textual da Bíblia é suplantada por considerações tópicas. Em muitos púlpitos, a Bíblia, se sequer for citada, se transforma em uma mera fonte de curtos aforismos ou narrativas convenientes.
As preocupações terapêuticas da cultura muitas vezes definem a agenda da pregação evangelical. As questões do “eu” predominam, e a congregação espera ouvir respostas simples para problemas complexos. Além disso, o pós-modernismo clama para si a primazia intelectual na cultura, e mesmo que não se renda completamente ao relativismo doutrinário, o congregante comum espera tomar suas decisões finais sobre as questões importantes da vida, desde a cosmovisão ao estilo de vida.
A pregação cristã autêntica possuí um senso de autoridade e uma demanda por decisões que não são encontrados em qualquer outro lugar na sociedade. A verdade sólida do Cristianismo contrasta fortemente com as pretensões instáveis da pós-modernidade. Infelizmente, o apetite pela pregação séria virtualmente desapareceu entre muitos cristãos que estão satisfeitos em terem sua fascinação por si mesmos encorajada pelo púlpito.
Um dos primeiros passos na recuperação da pregação cristã autêntica é definir exatamente o que queremos dizer quando discutimos pregação autêntica como “exposição”. Muitos pregadores afirmam ser expositores. Mas em muitos casos, isso significa meramente que o pregador tem um texto bíblico em mente, não importa o quão tênue seja a relação desse texto com o sermão.
Eu ofereço a seguinte definição de pregação expositiva como uma base para reflexão:
Pregação expositiva é o modo da pregação cristã que toma como seu propósito central a apresentação e aplicação do texto da Bíblia. Todas as outras questões e preocupações são subordinadas à tarefa central de apresentar o texto bíblico. Como a palavra de Deus, o texto da Escritura tem o direito de estabelecer tanto o conteúdo quanto a estrutura do sermão. Exposição genuína acontece quando o pregador avança no significado e na mensagem do texto bíblico e deixa claro como a palavra de Deus estabelece a identidade e a cosmovisão da igreja como o povo de Deus.
A pregação expositiva começa com a determinação do pregador de apresentar e explicar o texto da Bíblia para sua congregação. Esse simples ponto de partida é uma grande questão divisora na homilética contemporânea, pois muitos pregadores partem do pressuposto que precisam começar com um problema questão humana e então caminhar rumo ao texto. De forma contrária, a pregação expositiva começa no texto e trabalha a partir do texto para aplicar sua verdade às vidas dos crentes. Se essa determinação e compromisso não estiverem claras desde o início, algo diferente de pregação expositiva vai acontecer.
O pregador sempre vem ao texto e à pregação com muitas preocupações e prioridades em mente, muitas das quais são inegavelmente legítimas e importantes em si mesmas. Entretanto, se é para haver genuína exposição da palavra de Deus, essas outras preocupações devem estar subordinadas à tarefa central e irredutível de explicar e apresentar o texto bíblico.
A pregação expositiva está inescapavelmente ligada à séria tarefa da exegese. Se o pregador vai explicar o texto, ele precisa, primeiro, estudar o texto. Ele deve dedicar as hora de estudo e preparação necessárias para entender o texto. Durante esse tempo, o pastor deve investir a maior porção de sua energia e intelecto nessa tarefa de “manejar bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15). Não há atalhos para a exposição fiel. O expositor não é um explorador que retorna para contar as aventuras da jornada. Ele é um guia que lidera o povo ao texto e ensina a arte do estudo e da interpretação bíblica, demonstrando essas disciplinas essenciais em sua pregação.
O pregador expositivo, além disso, se submete tanto ao conteúdo quando à forma do texto bíblico como a palavra inerrante e infalível de Deus, divinamente planejada e dirigida. Deus falou por meio dos autores inspirados da Escritura, e cada gênero da literatura bíblica demanda que o pregador dê cuidadosa atenção ao texto, permitindo que o próprio dê forma à mensagem. Muitos pregadores vêm ao texto com uma forma de sermão em mente e um conjunto limitado de ferramentas para trabalhar. Certamente, a forma do sermão pode ser diferente de pregador para pregador e de texto para texto. Mas a exposição fiel demanda que o texto estabeleça tanto a forma quanto o conteúdo do sermão.
O pregador sobe ao púlpito para realizar um propósito central: anunciar a mensagem e o significado do texto bíblico. Isso requer investigação histórica, discernimento literário e a aplicação fiel da analogia fidei para interpretar a Escritura pela Escritura. Isso também requer que o expositor rejeite o conceito moderno de que o texto não significa necessariamente o que o texto significava. Se a Bíblia é verdadeiramente a palavra eterna e permanente de Deus, ela significa o que significava e é aplicada de forma renovada a cada geração.
Uma vez que o significa do texto é anunciado, o pregador parte para a aplicação. Aplicação da verdade bíblica é uma tarefa necessária da pregação expositiva. Mas a aplicação deve seguir a tarefa diligente e disciplinada da explicação do próprio texto. T. H. L. Parker descreve a pregação assim: “Pregação expositiva consiste na explicação e aplicação de uma passagem da Escritura. Sem explicação, não é expositiva; sem aplicação, não é pregação”.
A aplicação é absolutamente necessária, mas é cercada de perigos. O principal deles talvez seja a tentação de crer que o pregador pode, ou deve, manipular o coração humano. O pregador é responsável por proclamar a palavra eterna da Escritura. Apenas o Espírito Santo pode aplicar essa palavra aos corações humanos ou mesmo abrir os olhos e ouvidos para entender e receber o significado do texto.
Cada sermão apresenta ao ouvinte uma decisão a ser tomada. Ou iremos obedecer, ou iremos desobedecer, a palavra de Deus. A autoridade soberana de Deus opera por meio da pregação de sua palavra para demandar obediência de seu povo e fazê-los regozijar nela. Pregação é a instrumentalidade essencial pela qual Deus molda seu povo, conforme o Espírito Santo acompanha a palavra. Como os reformadores nos lembram, é por meio da pregação que Cristo está presente entre seu povo.
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

3 características da pregação expositiva

por Albert Mohler Jr.

Albert Mohler
Albert Mohler
A pregação expositiva autêntica é marcada por três características distintas:autoridadereverência e centralidade. A pregação expositiva é autoritativa porque se firma sobre a própria autoridade da Bíblia como a palavra de Deus. Tal pregação requer e reforça um senso de expectativa reverente por parte do povo de Deus. Por fim, a pregação expositiva demanda uma posição central na adoração cristã e é respeitada como o evento pelo qual a palavra viva de Deus fala com Seu povo.
Uma análise cuidadosa de nossa era contemporânea foi feita pelo sociólogo Richard Sennet, da Universidade de New York. Sennet nota que, em tempos passados, uma grande ansiedade da maioria das pessoas era a perda da autoridade governamental. Hoje a mesa virou, e as pessoas modernas ficam ansiosas por conta de qualquer autoridade sobre elas: “Agora tememos a influência da autoridade como uma ameaça a nossas liberdades, na família e na sociedade em geral”. Se as gerações anteriores temiam a ausência de autoridade, hoje vemos “um medo da autoridade, quando ela existe”.
Alguns especialistas em homilética sugerem que os pregadores deveriam simplesmente abraçar essa nova cosmovisão e desistir de afirmar terem uma mensagem autoritativa. Aqueles que perderam a confiança na autoridade da Bíblia como a palavra de Deus tem pouco a dizer e nenhuma autoridade em sua mensagem. Fred Craddock, uma das figuras mais influentes no pensamento homilético recente, descreve de forma pontual o pregador atual como “alguém sem autoridade”. O retrato que ele pinta dos predicados do pregador é assustador: “O velhos pregos e parafusos enferrujam no casco enquanto o ministro tenta guiar seu povo pelas águas pantanosas das relatividades e possibilidades”. “Não é mais possível ao pregador pressupor o reconhecimento geral de sua autoridade como clérigo, ou a autoridade de sua instituição, ou a autoridade da Escritura”, Craddock argumenta. Resumindo a situação do pregador pós-moderno, ele relata que o pregador “se questiona seriamente se deveria continuar provendo monólogos em um mundo dialógico”.
A questão óbvia a se fazer à análise de Craddock é essa: se não temos qualquer mensagem autoritativa, por que pregar? Sem autoridade, o pregador e a congregação estão envolvidos em uma perda de tempo massiva. A própria ideia de que a pregação pode ser transformada em um diálogo entre o púlpito e os bancos indica a confusão de nossa era.
Em contraste com isso está o tom de autoridade encontrado em qualquer pregação expositiva. Como Martyn Lloyd-Jones nota:
Qualquer estudo da história da igreja, e particularmente qualquer estudo dos grandes períodos de reavivamento, demonstra acima de tudo esse único fato: que a igreja cristã durante todos esses períodos falou com autoridade. A grande característica de todos os reavivamento tem sido a autoridade do pregador. Parecia haver algo novo, extra e irresistível naquilo que ele declarava em nome de Deus.
O pregador se atreve a falar em nome de Deus. Ele sobe ao púlpito como um mordomo “dos mistérios de Deus” (1 Coríntios 4.1) e declara a verdade da palavra de Deus, proclama o poder dessa palavra, e aplica a palavra à vida. Esse é certamente um ato audacioso. Ninguém deveria sequer contemplar tal empreitada sem ter confiança absoluta em um chamado divino para pregar e na autoridade imaculada das Escrituras.
Em última análise, a autoridade suprema da pregação é a autoridade da Bíblia como palavra de Deus. Sem essa autoridade, o pregador está nu e calado perante a congregação e o mundo que o assiste. Se a Bíblia não é a palavra de Deus,  pregador está envolto em um ato de auto-ilusão ou pretensão profissional.
Permanecendo na autoridade da Escritura, o pregador declara uma verdade recebida, não uma mensagem inventada. O ofício do ensino não é um papel de aconselhamento baseado em experiência religiosa, mas uma função profética na qual Deus fala com seu povo.
A pregação expositiva também é marcada pela reverência. A congregação reunida perante Esdras e os outros pregadores demonstravam amor e reverência pela palavra de Deus (Neemias 8). Quando o livro era lido, o povo se levantava. Esse ato de se levantar revela o coração do povo e seu senso de expectativa conforme a palavra era lida e pregada.
A pregação expositiva requer uma atitude de reverência por parte da congregação. Pregação não é um diálogo, mas envolve pelo menos duas partes – o pregador e a congregação. O papel da congregação na pregação é de ouvir, receber e obedecer a palavra de Deus. Ao fazê-lo, a igreja demonstra reverência pela pregação e ensino da Bíblia e entende que o sermão traz a palavra de Cristo para perto da congregação. Isso é verdadeira adoração.
Por falta de reverência pela palavra de Deus, muitas congregações se veem em uma busca frenética por significado em sua adoração. Cristãos saem do culto perguntando uns aos outros: “você entendeu alguma coisa daquilo?”. Igrejas realizam pesquisas para medir as expectativas: vocês gostariam de mais música? De que tipo? E teatro? Nosso pregador é criativo o suficiente?
A pregação expositiva requer um conjunto de questões bem diferente. Eu vou obedecer a palavra de Deus? Como eu preciso moldar meu pensamento à Escritura? Como eu devo mudar meu comportamento para ser plenamente obediente à palavra? Essas questões revelam submissão à autoridade de Deus e reverência pela Bíblia como sua palavra.
De forma semelhante, o pregador deve demonstrar sua própria reverência pela palavra de Deus ao lidar de forma fiel e responsável com o texto. Ele não deve ser irreverente ou casual, muito menos desrespeitoso ou arrogante. Disso estamos certos, nenhuma congregação reverencia mais a Bíblia do que seu pregador.
Se a pregação expositiva é autoritativa, e se demanda reverência, ela também deve estar no centro da adoração cristã. Um culto propriamente direcionado para a honra e glória de Deus encontrará seu centro na leitura e pregação da palavra de Deus. A pregação expositiva não pode receber um papel secundário no ato da adoração – ela deve ser central.
Durante a Reforma, o propósito que movia Lutero era o de restaurar a pregação ao lugar apropriado na adoração cristã. Se referindo ao incidente entre Maria e Marta em Lucas 10, Lutero lembrou sua congregação e os estudantes sob ele que Jesus Cristo declarou que “mesmo uma só coisa” é necessária, a pregação da palavra (Lucas 10.42). Assim, a preocupação central de Lutero era de reformar a adoração nas igrejas ao reestabelecer nelas a centralidade da leitura e pregação da palavra.
A mesma reforma é necessária no evangelicalismo atual. A pregação expositiva deve mais uma vez ser central na vida da igreja e central na adoração cristã. No fim, a igreja não será julgada pelo Senhor pela qualidade de sua música, mas pela fidelidade de sua pregação.
Quando os evangélicos de hoje falam casualmente da distinção entre adoração e pregação (dizendo que a igreja vai desfrutar de uma oferta de música antes de acrescentar um pouquinho de pregação), estão acusando o golpe de sua falta de entendimento tanto de adoração quanto do ato da pregação. Adoração não é algo que fazemos antes de nos sentarmos para ouvir a palavra de Deu; é o ato pelo qual o povo de Deus dirige toda sua atenção para o único vivo e verdadeiro Deus que fala com eles e recebe seu louvor. Deus é louvado da forma mais bela quando seu povo ouve sua palavra, ama sua palavra e obedece sua palavra.
Assim como na Reforma, o corretivo mais importante para nossa deturpação da adoração (e defesa contra as demandas consumistas correntes) é o retorno correto da pregação expositiva e da leitura pública da palavra de Deus à primazia e centralidade na adoração. Apenas assim a “joia perdida” será verdadeiramente redescoberta.
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Glorificando a Deus em tudo o que você fizer

por Mark Driscoll

Mark Driscoll
por Mark Driscoll
“Viva para a glória de Deus!”. Cristãos gostam de usar isso porque somos preguiçosos e porque adoramos um bom bordão de para-choque de caminhão. Há sempre um cara que está dizendo: “Glorifique a Deus, irmão!” Mas o que isso significa? “Glorifique a Deus”.
Deus é um Deus de Glória. Deus é glorioso. Deus existe para ser glorificado. A Bíblia fala da glória de Deus como um mega-tema que aparece aproximadamente 275 vezes na tradução para Inglês, 50 vezes só no livro de Salmos.
Quando as pessoas encontram a glória de Deus, eles respondem em forma de medo, espanto, admiração, adoração, temor, respeito, convicção, arrependimento, humildade. Deus é grande, somos pequenos. Deus é bom, somos maus. Nós existimos para Deus, Deus não existe para nós. Nosso eterno Deus, Jesus, vem na história humana como um ser humano e vive uma vida que é completa, total e consistentemente para glorificar a Deus sem qualquer pecado, como nosso exemplo de como uma vida de glória a Deus deve ser vivida.

Lidando com a Decepção na Igreja

por Kevin DeYoung
Ninguém me apoiou.”
“Eu não era importante para ninguém.”
“Você não estava nem aí.”
Essas são algumas das coisas mais difíceis que um pastor pode ouvir de sua congregação, estejam elas se referindo diretamente a ele ou não. Essas situações também são algumas das mais agressivas que um membro pode acusar a igreja e, sem dúvida, das mais doloridas que um membro da igreja pode sentir. Mesmo assim, esses sentimentos acontecem, e esses pensamentos são verbalizados, muito freqüentemente na vida da igreja.