terça-feira, 7 de junho de 2011

Unção com Óleo


A unção com óleo é uma prática usada por muitas igrejas de nossa atualidade. No entanto, na Igreja Presbiteriana é uma prática que não é utilizada. Então nos vem a seguinte pergunta: Porque não utilizamos a unção com óleo? Na Bíblia encontramos vários textos que afirmam a unção como óleo? Como interpretar estes textos a luz das Escrituras?
Esses questionamentos é que iremos tentar responder a luz da Teologia Reformada.
Embora este é um assunto controverso e difícil. E, cabe aqui uma análise teológica sobre as práticas da Igreja quanto a este assunto, levando em conta primeiro e especialmente o que nos informam as Escrituras Sagradas, depois olhando para a história da Igreja, de modo a que possamos ver de que forma este assunto foi tratado no decorrer do tempo, de modo a que possamos avaliar com maior propriedade o que hoje é praticado, e com conhecimento de causa, possamos estabelecer o que deve ser feito quanto à esta importante questão é necessário analisar o a questão sob a Luz do Antigo Testamento.
Entendendo a unção no Antigo Testamento.
A utilização do óleo no Antigo Testamento tem um significado separar e consagrar. Assim, encontramos muitos objetos que foram separados para serem utilizados no tabernáculo. Que por sua vez, o tabernáculo era algo separado e consagrado ao serviço de Deus..
Fig. 1


O óleo era usado nos utensílios dos tabernáculo conforme podemos constatar nas seguintes passagens:
"E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção. (26) E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, (27) E a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso. (28) E o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base. (29) Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo." (Êxodo 30:25-29 ACF)
"Também cada dia prepararás um novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e purificarás o altar, fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo. (37) Sete dias farás expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será santíssimo; tudo o que tocar o altar será santo." (Êxodo 29:36-37 ACF).
O entendimento destes versículos é bastante claro, pois, os objetos ungidos se tornavam santos, ou santificados, e também santificadores, pois, tudo o que neles tocasse se tornaria também santo.
Qual a aplicabilidade dos versículos acima para os dias de hoje? Hoje temos apenas uma aplicabilidade didática e histórica no que se refere à unção com óleo.  É importante ressaltar que em nossos cultos temos vários objetos separados para uso específico, em nossas Igrejas, como púlpitos, mesas, cadeiras, genuflexórios, cálices para a ceia, etc., contudo, não os ungimos para torná-los santos, ou santificadores. Isto se deve à teologia do Novo Testamento, que afirma categoricamente que desde a vinda do Senhor Jesus Cristo, santos são aqueles que são salvos através da redenção pelo Seu sangue derramado na cruz, e pela Sua ressurreição dos mortos:
"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (17) Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." (I Coríntios 3:16-17 ACF)
"Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? (20) Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." (I Coríntios 6:19-20 ACF)
O Templo de adoração passou a ser o coração do salvo, não mais um local de tijolos e pedras. O véu do antigo Templo se rasgou no momento em que Jesus Cristo cumpriu sua missão na cruz:
Outro termo que não é mais apropriado para os nossos dias é a unção de Pessoas. No entanto, o termo ainda é bastante confuso, pois, a palavra no Antigo Testamento, revela que a "unção" era um ato cerimonial que se realizava como sinal de consagração/santificação (que significa separação) de autoridades (religiosas ou políticas) para o exercício de suas funções (Levítico 8:12; 21:10; 1Samuel 10:1). Hoje, entretanto, tem-se dado uma conotação diferente. Diz-se hoje que pessoas ungidas são pessoas que gozam de um poder especial da parte de Deus.
O uso de óleo em nossos dias fica descartado pelo fato que não se tem necessidade das formas ritualísticas do Antigo Testamento. O uso da unção com óleo para objetos, de modo a torná-los sagrados ou santificados caiu em desuso com a chegada do Messias, e nada mais pode ser considerado objeto sagrado, uma vez que o templo de Deus na Nova Aliança é o corpo daquele que teve seu coração transformado pelo sangue do Cordeiro de Deus.


Portanto, como entender a passagem de Tiago 5:14 e as demais que aparecem no Novo Testamento que são:
Tiago 5:14 “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.”
Marcos 6.13   expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo.
Lucas 10.34   E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele.
1Timoteo 5.23   Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades.
Há uma regra na hermenêutica (principio de interpretação bíblica) que diz: Todo texto fora de contexto e pretexto para heresia.
Os únicos textos encontrados para aplicação com óleo em pessoas enfermas no Novo Testamento são estes.
E nem dos textos é apresentado poder no óleo. Não existe óleo milagroso que cura enfermos. A grande ênfase está no poder de Deus. Os presbíteros que são mencionados em Tiago são representantes da igreja. Isso nos mostra que a oração é feita pela igreja que deve interceder pelos seus enfermos. Neste sentido nos revela o cuidado que os membros devem ter uns pelos outros.
A expressão “ungir com óleo”, se refere como o ato de “esfregar com óleo” o enfermo e não “ungir com óleo”, pois antigamente as pessoas usavam o azeite de oliva como prática medicinal, a qual era feita mediante o massagear ou esfregar o óleo no enfermo. Mas tanto a oração como a unção, tinham que ser em nome do Senhor, mostrando ênfase no poder de Deus.
O que Tiago pretendia com o uso do óleo era o emprego dos melhores recursos médicos daquele tempo. Tiago simplesmente disse que se aplicasse óleo (freqüentemente usado como base de misturas de várias ervas medicinais)  no corpo e que se fizesse oração. O que Tiago defendia era o emprego da medicina aceita e consagrada. Nessa passagem ele apregoou que as doenças fossem tratadas com recursos médicos acompanhados de oração. Ambos os elementos devem ser usados juntos;  nenhum deles deve excluir o outro. Portanto, ao invés de ensinar a cura pela fé, independentemente do uso de medicamentos, a passagem ensina justamente o contrário. Mas quando se usam medicamentos, estes devem ser usados conjuntamente com a oração. Aí está a razão por que Tiago disse que a oração da fé cura o doente.


Considerações quanto ao uso do óleo.

1.     A Igreja Presbiteriana do Brasil não é omissa nesta questão, mas, historicamente tem entendido que o uso do óleo recomendado por Tiago, não é nenhum tipo de “ unção” cerimonial” (nossa denominação admite somente duas cerimônias de valor sacramental, a Santa Ceia e o Batismo).
2.     Uso do óleo em Tiago 5.14, ao invés de ensinar a cura pela fé, independentemente do uso de medicamentos, ensina justamente o contrário.
3.     Uso do óleo no contexto do Novo Testamento e, neste caso específico, tem valor medicinal medicamentoso.
4.     Óleo sem sua legítima aplicação medicamentos, não produz qualquer efeito.
5.     A oração não prescinde do uso do medicamento aplicável a cada caso específico.
6.     A frase: “ os presbíteros da igreja” em Tiago 5.14 deixa entender a ação do corpo coletivo dos presbíteros e não ação individual. Se um age, age por todos.
7.     Crente pode, e está sujeito a se enfermar. Doença não é resultado direto de pecado específico.
8.     Fica estabelecido, no entanto, que este contexto de Tiago 5.14 ensina aos presbíteros a caminhar para uma  confrontação bíblica com o enfermo, inquirindo dele, o enfermo, a possibilidade de o pecado estar na raiz da doença.

Também não há mais qualquer necessidade de unção para sacerdotes, reis ou profetas. Ocorrendo no caso daqueles que se dispõem a servir como oficiais da Igreja, o ato da imposição de mãos, figura substituta da unção, mas, com significação distinta.
Resta então apenas um tipo de unção a ser analisado em termos de uso nos dias atuais: a unção de enfermos com fins medicamentosos. Não restou nenhum tipo de unção, com finalidades espirituais, a ser utilizada pelos crentes em Jesus Cristo após o estabelecimento da Nova Aliança.

 Produtos utilizados

Azeite
O azeite de oliva simboliza uma vida útil e vibrante, sendo símbolo de regozijo, saúde e de qualificações de uma pessoa para o serviço do Senhor:
"Porém tu exaltarás o meu poder, como o do boi selvagem. Serei ungido com óleo fresco." (Salmo 92:10 ACF)
Ungüento
Gordura misturada com perfumes especiais que lhe davam características muito desejáveis.
Era utilizado para ungir os pés dos hóspedes, simbolizando a alegria pela chegada daquele hóspede, e desejando-lhe boas vindas:
"E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo." (João 11:2 ACF)
Também como era utilizado no cuidado pessoal com o corpo, pois, é um excelente hidratante:
"Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas. (3) Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três semanas." (Daniel 10:2-3 ACF)
"Lava-te, pois, e unge-te, e veste os teus vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber." (Rute 3:3 ACF)
Óleos curativos
O óleo tem poderes curativos, permitindo amolecer feridas e purificá-las. O óleo quando misturado a certas ervas, pode proporcionar medicamentos poderosos para vários males. Não é de surpreender que os médicos em Israel tivessem desde tempos antigos conhecimento destas ervas e da forma de utilizá-las no processo curativo de doentes.
"Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo." (Isaías 1:6 ACF)
"E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;" (Lucas 10:34 ACF)
Ungüento fúnebre
Este ungüento era utilizado na preparação do corpo para o sepultamento, como parte de um processo de embalsamamento:
"Ora, derramando ela este ungüento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento." (Mateus 26:12 ACF)
"E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo. (56) E, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos; e no sábado repousaram, conforme o mandamento." (Lucas 23:55-56 ACF)


Texto: Adaptado

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