Por: Presb. Manoel Canuto
Temos hoje uma
verdadeira batalha em torno da defesa da liberdade religiosa. Muitas
entidades, até mesmo não religiosa, buscam a defesa da livre prática
das muitas crenças. E toda esta batalha gira essencialmente em torno do
modo como se presta culto à sua divindade. O mundo tem defendido, com
poucas exceções, que cada pessoa adore livremente ao seu deus. Alguns, e
não poucos, manifestam a opinião de que não se deve condenar nenhuma
religião, sob pena de incorrer em condenável crime do preconceito contra
a cidadania. Todos dizem que qualquer pessoa tem o “direito” de adorar
ao deus que deseja e da forma que imagina. I. G. Vos afirma que se esta
palavra “direito” não for bem entendida teremos muita confusão e mal
entendido. Na verdade há uma diferença entre direito civil e direito
moral. O direito civil tem sua validade no âmbito da sociedade humana,
mas o direito moral tem validade no âmbito da Lei moral de Deus. Ninguém
pode impedir que um homem de muitas posses gaste seu dinheiro em orgias
e em práticas mundanas se esse é seu desejo. O que o governo pode e
deve fazer é cobrar deste homem, que ele pague seus impostos e não
proceda de forma a afrontar ou prejudicar qualquer cidadão. No entanto,
quando este homem está diante de Deus, usando destas práticas carnais,
ele tem de abandoná-las e pensar naquilo que Deus determinou que não
deve ser feito, sob pena de ser condenado ao prestar contas no dia do
juízo. Assim, podemos entender que a lei civil garante a qualquer pessoa
cultuar seu deus como desejar ou até mesmo nunca cultuar, desde que
alguma coisa escandalosa não seja praticada, ou não coloque em risco a
vida de alguém ou não degrade a sociedade civil.
Mas muitos crentes
imaginam que esta lei civil de liberdade religiosa deve ser aplicada
nas igrejas de hoje. Esquecem que diante da Lei moral de Deus ninguém
tem o direito de adorá-lo da forma como deseja. O homem tem uma natureza
corrompida e esta corrupção o leva sempre a buscar uma forma impura de
cultuar a Deus, mesmo que suas intenções sejam sinceras. Desde cedo o
homem teve de aprender a cultuar ao Criador. Foi-lhe necessário adorar
com fé, para que Deus aceitasse sua adoração ─ fé em alguma verdade. O
homem tem de adorar crendo na vontade de Deus revelada. Vemos em toda a
Escritura que Deus sempre estabeleceu o modo correto do homem adorá-lo.
Deus sempre colocou diante do homem princípios para a pureza da
adoração. Deus não pode ser cultuado segundo as imaginações e invenções
humanas, nem através de qualquer representação visível. A ênfase é que
Deus não pode ser cultuado através de nenhum outro modo que não seja
prescrito ou ordenado nas Escrituras. Por isso o crente não pode pensar
como o mundo pensa. Sua liberdade religiosa não deve ser vista como uma
liberdade para fazer o que deseja, mas como uma libertação das ciladas e
amarras de Satanás que o incita a adorar da maneira que ele pensa; o
Cristão é liberto de seus pensamentos carnais para fazer a vontade de
Deus revelada na Bíblia.
Segundo as Escrituras, o culto não deve ser
prestado a anjos, nem a santos, nem a qualquer outra criatura, mas
somente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Deve ser um culto simples
através da oração com ações de graça, da leitura das Escrituras, da sã
pregação da Palavra, do cântico dos salmos, pela administração correta
dos sacramentos e, em ocasiões especiais, com ações de graça, jejum,
votos e juramentos. Assim dizem os teólogos de Westminster.
Somos gratos aos reformadores por redescobrirem o culto simples praticado no período apostólico. Dr. Pipa de Greenville ilustra aos seus alunos a simplicidade do culto reformado, dizendo:
Somos gratos aos reformadores por redescobrirem o culto simples praticado no período apostólico. Dr. Pipa de Greenville ilustra aos seus alunos a simplicidade do culto reformado, dizendo:
Outra maneira de pensar sobre a simplicidade do culto é o que chamo de portabilidade (de portátil) de culto. Portabilidade significa que nós podemos realizar nossa adoração em qualquer lugar. Essa é a simplicidade da adoração, nós apenas precisamos de um púlpito, uma mesa para a comunhão, um livro de louvor, um pequeno frasco de água, um pouco de vinho e um pão ─ isso é o suficiente.
Quão
diferente dos dias de hoje! Não preciso mencionar as distorções cúlticas
praticadas hoje quando este princípio da simplicidade é esquecido.
Deus adverte no 2°
mandamento: "porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que
visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração
daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles
que me amam e guardam os meus mandamentos" (Êx 20.5-6).
Sobre o autor: Manoel Canuto é presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil. É editor e membro do Conselho Editorial da Revista Os Puritanos, publicação trimestral do Centro de Literatura Reformada (CLIRE).
Fonte: Revista Os Puritanos, ano XVII, nº 04, 2009.
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