sábado, 23 de julho de 2011

O Calvinismo Operou Transformações Sociais

 

Isto não resultou de inveja. Não era o homem de estado inferior que reduziu seu superior a seu nível, a fim de usurpar o lugar superior, mas sim todos os homens ajoelhando-se em aliança aos pés do Santo de Israel. Isto explica o fato de que o Calvinismo não fez uma súbita ruptura com o passado. Assim, como em seu estágio primitivo, o Cristianismo não aboliu a escravidão, mas o minou por um julgamento moral, desta forma o Calvinismo permitiu a continuação provisória das condições de hierarquia e aristocracia como tradições pertencentes à Idade Média. Não fez a acusação contra Guilherme de Orange de que ele era um príncipe de linhagem real; isto pelo contrário, o fez ser mais honrado. Mas, internamente, o Calvinismo tem modificado a estrutura da sociedade, não pela inveja de classes, nem por um apreço indevido pela possessão do rico, mas por uma interpretação mais séria da vida. Através de um melhor trabalho e um desenvolvimento superior do caráter das classes média e trabalhadora têm levado ao ciúmes a nobreza e os cidadãos mais ricos. Olhar primeiro para Deus, e então para a pessoa do próximo era o impulso, o pensamento e o costume espiritual ao qual o Calvinismo deu entrada. E deste santo temor de Deus e desta posição unida diante da sua face, uma idéia democrática mais santa tem se desenvolvido, e tem continuamente ganho terreno. Esta conclusão tem sido produzida, acima de tudo, pelo companheirismo no sofrimento. Quando, embora leal à fé romanista, os duques de Egmont e de Hoorn[1] subiram o mesmo cadafalso sobre o qual, por causa de uma fé mais nobre, o trabalhador e o tecelão tinham sido executados, a reconciliação entre as classes recebeu sua sanção naquela morte amarga. Por sua perseguição sanguinária, Alva a Aristocrata, promoveu o desenvolvimento próspero do espírito de democracia. Ter colocado o homem em uma posição de igualdade com o homem, é a glória imortal que pertence incontestavelmente ao Calvinismo. A diferença entre ele e o sonho selvagem de igualdade da Revolução Francesa é que, enquanto em Paris foi uma ação de comum acordo contra Deus, aqui, todos, rico e pobre, estavam sobre seus joelhos diante de Deus, consumidos com um zelo comum pela glória de seu nome.


[1] (NE) Duques de Egmont e Hoorn: Kuyper está se referindo à execução sofrida pelos dois nobres holandeses, que haviam participado de uma das muitas insurreições contra o domínio espanhol, ocorrida em 5 de junho de 1598. Muitas vidas foram ceifadas, de nobres e do “povo comum” na campanha impiedosa desencadeada pelo duque de Alba, atendendo ao comissionamento do rei Felipe II, da Espanha. A Holanda somente ganhou a sua plena independência após muitas lutas, e vários armistícios, em 1648.

Isto não resultou de inveja. Não era o homem de estado inferior que reduziu seu superior a seu nível, a fim de usurpar o lugar superior, mas sim todos os homens ajoelhando-se em aliança aos pés do Santo de Israel. Isto explica o fato de que o Calvinismo não fez uma súbita ruptura com o passado. Assim, como em seu estágio primitivo, o Cristianismo não aboliu a escravidão, mas o minou por um julgamento moral, desta forma o Calvinismo permitiu a continuação provisória das condições de hierarquia e aristocracia como tradições pertencentes à Idade Média. Não fez a acusação contra Guilherme de Orange de que ele era um príncipe de linhagem real; isto pelo contrário, o fez ser mais honrado. Mas, internamente, o Calvinismo tem modificado a estrutura da sociedade, não pela inveja de classes, nem por um apreço indevido pela possessão do rico, mas por uma interpretação mais séria da vida. Através de um melhor trabalho e um desenvolvimento superior do caráter das classes média e trabalhadora têm levado ao ciúmes a nobreza e os cidadãos mais ricos. Olhar primeiro para Deus, e então para a pessoa do próximo era o impulso, o pensamento e o costume espiritual ao qual o Calvinismo deu entrada. E deste santo temor de Deus e desta posição unida diante da sua face, uma idéia democrática mais santa tem se desenvolvido, e tem continuamente ganho terreno. Esta conclusão tem sido produzida, acima de tudo, pelo companheirismo no sofrimento. Quando, embora leal à fé romanista, os duques de Egmont e de Hoorn[1] subiram o mesmo cadafalso sobre o qual, por causa de uma fé mais nobre, o trabalhador e o tecelão tinham sido executados, a reconciliação entre as classes recebeu sua sanção naquela morte amarga. Por sua perseguição sanguinária, Alva a Aristocrata, promoveu o desenvolvimento próspero do espírito de democracia. Ter colocado o homem em uma posição de igualdade com o homem, é a glória imortal que pertence incontestavelmente ao Calvinismo. A diferença entre ele e o sonho selvagem de igualdade da Revolução Francesa é que, enquanto em Paris foi uma ação de comum acordo contra Deus, aqui, todos, rico e pobre, estavam sobre seus joelhos diante de Deus, consumidos com um zelo comum pela glória de seu nome.


[1] (NE) Duques de Egmont e Hoorn: Kuyper está se referindo à execução sofrida pelos dois nobres holandeses, que haviam participado de uma das muitas insurreições contra o domínio espanhol, ocorrida em 5 de junho de 1598. Muitas vidas foram ceifadas, de nobres e do “povo comum” na campanha impiedosa desencadeada pelo duque de Alba, atendendo ao comissionamento do rei Felipe II, da Espanha. A Holanda somente ganhou a sua plena independência após muitas lutas, e vários armistícios, em 1648.

Fonte: Texto retirado do livro: Calvinismo - Abraham Kuyper

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