quarta-feira, 29 de junho de 2011

UMA LIÇÃO DE... EVANGELISMO

 
Uma Lição de Spurgeon
Acerca do Evangelismo
Thomas Ascol
harles Spurgeon tem sidoadequadamente descrito comoum daqueles pregadores que apa-rece “uma vez a cada 100 anos”,em quem todos os poderosos donsque são úteis ao ministério estãodepositados.1 Sua vida e obrapermanecem hoje, mais de 100 anosapós sua morte, encorajando edesafiando ministros do evange-lho que estão diante do terceiromilênio.
Qualquer estudo do minis-tério de Spurgeon revela imedia-tamente um homem obsediado peloevangelismo. Desde omomentode sua conversão até o dia de suamorte, Spurgeon manteve umaintensa preocupação pelas almas.Era fanático quanto ao assunto
em todas as formas corretas. Comopastor, levou muito a sério o con-selho apostólico para fazer “otrabalho de um evangelista”. Ediligentemente procurou desper-tar uma preocupação evangelísticanos membros de sua igreja e emseus colegas pregadores.
Este fato confunde algunsestudiosos da vida de Spurgeon,pois, junto com esse fervor evan-gelístico (e, poderíamos dizer, adespeito das afirmações contem-
porâneas em contrário), ele jamaisse afastou do profundo compro-misso com as doutrinas da Graça.Entendeu com clareza, creu pes-soalmente e proclamou com podero que, em linguagem popular, échamado de “calvinismo”. Ele ofez não por qualquer tipo dedevoção a um homem ou a umsistema filosófico, mas por estarconvencido de que todas as verda-des que historicamente sempreestiveram debaixo dessa bandeiranão eram outra coisa senão ocristianismo bíblico.2 Foi estacompreensão que o capacitou apregar a Cristo de forma tão simplese persuasiva.
Alguns que discordam dateologia de Spurgeon, mas apre-ciam seu evangelismo, têm difi-culdade em conciliar as crenças e aprática dele. Tais pessoas nor-malmente evocam mais ou menoso seguinte: “Sim, Spurgeon eraum calvinista; todavia, apesardisso, era evangelístico”. Talanálise, entretanto, não é correta.Seria melhor dizer: “É claro queSpurgeon era um calvinista e,portanto, era evangelístico”. Suadevoção brotou de sua doutrina, esua crença orientou a sua prática.
É neste ponto, talvez maisdo que em qualquer outro, que o“Príncipe dos Pregadores” temmuito a ensinar aos pastores dehoje. Nos últimos 25 anos, muitosdesses têm se voltado à teologiade Spurgeon. Essa renovaçãoteológica está crescendo. Mas o quenão temos visto é um crescimentoproporcional ao tipo de evan-gelismo praticado por Spurgeon.Isso deveria alarmar a todosquedesejam ver uma renovação ge-nuína e bíblica varrendo nossasigrejas.
Há uma geração de pastores que cresceram com o evangelismo modelado de acordo coma arte de vendas. Alguns dosmanuais de evangelismo modernosdiferem muito pouco do livroTh e Art of the Deal (A Arte do Negócio), escrito por Donald Trump(um milionário de nossos dias).Esse tipo de evangelismo temcausado grande estrago às igrejas,enchendo-as de pessoas não-convertidas e, em última análise,confundindo os crentes acerca daverdadeira natureza do cristia-nismo. Tal evangelismo é mortal eprecisa ser rejeitado. Mas, comoJesus alertou, quando um espíritoimundo sai de um homem, se talespírito não for substituído, logovoltará e trará consigo “outros seteespíritos piores que ele,... e oúltimo estado daquele homemtorna-se pior do que o primeiro”(Mt 12.45). O evangelismo falsoprecisa ser substituído pelo verda-deiro. Spurgeon pode nos mostraro caminho, especialmente emtermos de atitudes interiores edesejos.
Spurgeon era um calvi-nista com “C” maiúsculo e umbatista com “B” maiúsculo, masseuCRISTIAN ISMOera escritototalmente em letras maiúsculas.Em uma palestra aos alunos deuma faculdade de pastores, elereconheceu a conveniência de setentar transformar um pedobatistaem um batista e ajudar os armi-nianos a enxergarem que a salvaçãoé totalmente pela graça. “Mas”, eledisse, “nosso grande objetivo nãoé a reversão de opiniões, e sim aregeneração das naturezas. De-vemos trazer homens a Cristo enão aos nossos pontos de vistaparticulares a respeito do cris-tianismo... Fazer prosélitos é algo
que cabe aos fariseus; regenerarhomens para Deus é uma metahonrada dos ministros de Cristo”.3
É praticamente impossívelencontrar um sermão impresso deSpurgeon que não contenha algumtipo de apelo ao não-convertido.Eles estão cheios de alegações,argumentos, alertas e instruçõesaos pecadores, chamando-os econvidando-os a virem a Cristo. Aprópria atitude de Spurgeon érefletida no retrato de João Bunyande um verdadeiro ministro doevangelho, emO Peregrino. Emseu primeiro sermão, na igreja deNew Park Street, ele utilizou essacena para descrever como o mi-nistro do evangelho deve consideraras almas de homens e mulheres:
João Bunyan fornece-nos umretrato de um homem a quemDeus tencionou tornar um guiapara os céus; vocês já obser-varam como esse quadro ébonito? Esse homem tem umacoroa da vida sobre sua cabeça,a terra encontra-se debaixo deseus pés, está de pé como se
implorasse aos homens e como melhor dos Livros em suasmãos. Oh! Como eu gostaria,por um só momento, ser essetipo de pregador; que pudessearrazoar com os homens, assimcomo João Bunyan descreve.Todos somos embaixadores deCristo e, nesta qualidade, de-vemos suplicar aos homens,como se Deus lhes falasse pornosso intermédio. Como eugosto de ver um pregador quechega às lágrimas! Como gostode ver um homem que é capazde chorar por causa dos peca-dores, um homem cuja almaanela pelos ímpios, como se elepudesse, de alguma forma,trazê-los ao Senhor JesusCristo! Não consigo compre-ender um homem que sobe aopúlpito e apresenta um discursofrio e indiferente, como se nãotivesse interesse pela alma deseus ouvintes. Creio queoverdadeiro ministro do evan-gelho é aquele que tem um realanseio pelas almas, demons-trado em uma atitude se-melhante à de Raquel, quandoclamou: “Dá-me filhos, senãomorrerei”. Esse ministrotambém clamará a Deus, paraque veja os eleitos do Senhornascerem e serem trazidos paraDeus. E, conforme penso, todoo verdadeiro crente deve serextremamente zeloso na oração
em favor das almas dos ímpios;e quando fazem isto, Deus osabençoa abundantemente e aigreja prospera! Porém, ama
dos, mesmo vendo almas con-denadas, quão poucos se im-portam com elas! Os pecadorespodem afundar no lamaçal daperdição; entretanto, poucaslágrimas são derramadas poreles! O mundo inteiro pode serlevado por uma torrente aoprecipício de condenação, e,apesar disso, quão poucosrealmente clamam a Deus emfavor dessas pessoas! Quãopoucos homens dizem: “Oh!Que a minha cabeça se tornasseem águas, e os meus olhos, emfonte de lágrimas! Então,choraria de dia e de noite osmortos da filha do meu povo”!Não lamentamos diante deDeus pela perda da alma doshomens, como seria próprioaos cristãos fazerem.4
Spurgeon argumentou quenão apenas certos tipos de pre-gadores podem ser ganhadores dealmas. Na verdade, todo o pregadordeveria labutar seriamente para verseus ouvintes salvos.
“A menos que conversões
sejam constantemente vistas, emtodas as nossas congregaçõesum clamor amargo deveria serlevantado a Deus. Se nossa pre-gação jamais salva uma alma (e istonão é comum acontecer) nãodeveríamos glorificar a Deusmelhor como lavradores ou co-merciantes? Que honra pode oSenhor receber de pregadoresinúteis? O Espírito Santo não estáconosco, nem estamos sendo usadospor Deus, para os seus gloriosos
propósitos, a menos que almasestejam sendo despertadas para vidaeterna. Irmãos, será que podemossuportar o sermos inúteis? Podemosser estéreis e, ainda assim, estarcontentes?”5
Para Spurgeon, essa pai-xão era inextinguível. Ele viu, deforma bastante exata, que a glóriade Deus estava em jogo.
“Novamente, se tivermos
de ser revestidos do poder do
Senhor, precisamos sentir um
intenso anelo pela glória de Deus,e pela salvação dos filhos doshomens. Mesmo quando somos os
mais bem-sucedidos, precisamosanelar por mais êxito. Se Deus temnos dado muitas almas, precisamosansiar por milhares de vezes o quetemos. A satisfação com os re-sultados será a morte lenta doprogresso. Não é bom para ohomem pensar que não pode me-lhorar. Ele não possui santidade,se acha que já é útil o suficiente.”6
Essa paixão ardente ine
vitavelmente determinará como umhomem prega. Por um lado, ela olevará a empenhar-se para ser claroem seu discurso. “Devemos dizera nós mesmos: ‘Não; eu não possousar esta palavra difícil, pois aquelapobre senhora que senta naquelelugar não me compreenderia. Nãoposso salientar aquela dificuldadeobscura, pois aquela pobre almapoderá ser confundida por taldificuldade e não aliviada porminha explanação’... Se você amaos seres humanos, você amarámenos as palavras difíceis”.7
O objetivo de ver almasganhas para Cristo através dapregação também levará o pregadora labutar para ser interessante.“Como, em nome da razão, podemalmas se converter por meio desermões que embalam as pessoas adormir?”8 É por esse motivo que ohumor pode ter um papel legítimona pregação. Spurgeon ponderouque é “crime menos grave causaruma risada momentânea do que umsono profundo de meia hora”.9
Ele é tão enfático nisto,que é fácil compreendê-lo demaneira errônea. Spurgeon nãoestava argumentando que o pre-gador é responsável pelo sucessoevangelístico de seu ministério; éresponsável pela fidelidade à tarefa de evangelizar. Deus, em sua
soberania, salvará aqueles que Elequiser, quando e onde quiser.Spurgeon jamais duvidou disso.Todavia, ele se recusou a nospermitir esquecer que no âmago deum ministério fiel reside umaprofunda paixão pelas almas dehomens e mulheres. Ele disse: “Seos pecadores serão condenados, quepelo menos pulem para oinfernopassando por cima de nossoscorpos. Se perecerem, que pereçamcom nossos braços e mãos tocandoos seus joelhos, implorando quefiquem. Se o inferno tiver de sercheio, pelo menos que seja cheioapesar de nossos esforços, e queninguém entre ali sem estar avisadoe sem que se tenha intercedido poressa pessoa.”10
Se nossa doutrina nãoconduz à devoção, alguma coisaestá tremendamente errada. Nãoterminaremos nossa tarefa até quea cabeça, o coração e as mãos con-cordem. Tal integração santificadade nossa personalidade não seráalcançada até que vejamos o Senhorface a face. Mas temos de nos es-forçar para alcançar esse objetivo,aqui e agora. Tendorecebido oevangelho, precisamos estarengajados no evangelismo. E,quanto mais claramente tivermosassimilado o evangelho, tanto maisapaixonados haveremos de nosentregar à evangelização
1Erroll Hulse, “Spurgeon and His Gospel Invitations”, em A Marvelous
Ministry (Ligonier, PA, Soli Deo Gloria Publications, 1993), p. 76.
2Spurgeon repudiou aqueles que tentaram igualar o “calvinismo” à
devoção a tudo o que João Calvino ensinou ou praticou. Essas tentativas
ainda são feitas hoje por pessoas que simplesmente ignoram as questõeshistóricas e por aqueles que as conhecem, mas parecem ter a intençãode deturpar e confundir as questões. Ele concordaria plenamente como que o antigo estadista dos Batistas do Sul, John Broadus, escreveuno Western Recorder (o jornal dos batistas do Kentucky):
“As pessoas que escarnecem daquilo que se denominacalvinismo, com igual razão poderiam desfazer da altura domonte Branco. Não estamos nenhum um pouco obrigados adefender todos os atos e opiniões de Calvino, mas não vejocomo alguém querealmente entenda o grego do apóstolo Paulo,ou o latim de Calvino ou Turretin, possa não enxergar queestes últimos não fizeram outra coisa senão interpretar e formularsubstancialmente o que aquele primeiro ensinou” (A. T.Robertson, Life and Letters of John A. Broadus, American BaptistPublication Society, 1901, pp. 396-97).
Ver o capítulo 13, “Uma Defesa do Calvinismo”, em C. H. Spurgeon
Autobiography, Volume 1: Early Years 1934-1959, uma edição revisada,
originalmente compilada por Susannah Spurgeon e Joseph Harrald(Edinburgh, The Banner of Truth Trust, reiimpressão de 1981, Volume1 inicialmente publicado em 1962).
3The Soul Winner, (Grand Rapids, MI, Wm. B. Eerdmans Publishing
Company, reiimpressão de 1981, primeira publicação em 1964), p. 16.
4Autobiography, Vol. 1:329; citado em Hulse, “Spurgeon and His Gospel
Invitations”, pp. 83-84.
5Citação de “What We Would Be”, exemplar de junho de 1886 de Sword
and Trowel, uma palestra na conferência de pastores da faculdade;
reimpresso emSermons on Unusual Ocasions (Pasadena, TX, Pilgrim
Publications, 1978), p. 180.
6An All-Round Ministry, p. 352.
7Ibid, p. 352.
8Citação de “What We Would Be”, exemplar de junho de 1986 de Sword
and Trowel; reimpresso em Sermons on Unusual Ocasions, p. 180.
9The New Park Street Pulpit, Vol. 1:1855, prefácio.
10Spurgeon At His Best, compilado por Tom Carter (Grand Rapids, MI,
Baker Book House, reiimpressão de 1991, primeira publicação em 1988),
p. 67.

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